quarta-feira, 19 de junho de 2013

Uma história de Assassinos...


Há algum tempo fiquei enfeitiçado pelos jogos de videogame e os livros da franquia "Assassin´s Creed" produzidos pela empresa francesa Ubisoft. O que me lançou numa jornada extremamente bem aventurada e a produção de um amplo artigo - que ao invés de publicar como texto, escolhí apresentar e gravar no meu programa semanal Vox Vampyrica. E como o tempo e o espaço são ilusórios - esquecí naquela época de compartilhar com vocês do blog, mea culpa...Mas como tudo tem uma peculiar razão de ser - encontrei o texto abaixo sobre os tais Assassinos de autoria do célebre Hakim Bey em sua obra: Caos, Terrorismo Poético e outros crimes exemplares (disponível para download, aqui); então hoje compartilho com vocês as duas edições do Podcast e o texto inspirador abaixo! Bon Apetit!

PARTE1(Faça o Download ao lado, ou escute na íntegra no player abaixo) 

PARTE 2(Faça o Download ao lado, ou escute na íntegra no player abaixo)


Atravessando o brilho do deserto e ganhando as montanhas policromadas, nuas e ocre, violeta pardo e terracota, no alto de um vale dissecado azul, os viajantes encontram um oásis artificial, um castelo fortificado em estilo sarraceno, guardando um jardim escondido.

Como convidados de Hassan-i Sabbah, o Velho da Montanha, eles sobem os degraus cortados na pedra que levam at´e o castelo. Aqui, o Dia da Ressurreição veio e passou – os do lado de dentro vivem fora do Tempo profano, que é mantido a distância com lanças e veneno.

Por trás de torres crenuladas e de longas janelas talhadas, estudiosos e fedains velam em estreitas celas monolíticas. Mapas do céu, astrolábios, destiladores e retortas, pilhas de livros abertos sob a luz da manhã – uma cimitarra descoberta.

Cada um dos que entram no reino do Imã-de-seu-próprio-ser transforma-se num sultão de revelação inversa, num monarca da anulação e da apostasia. Num aposento central, entrecortado pela luz e adornado com uma tapeçaria de arabescos, eles se recostam em almofadas e fumam longos narguiles de haxixe perfumado com ópio e âmbar.Para eles, a hierarquia do ser compactou-se num ponto adimensional do real – as correntes da Lei foram quebradas – eles terminam seu jejum com vinho. Para eles, o exterior de todas as coisas é o interior delas, sua face verdadeira revela-se diretamente. Mas os portões do jardim estão camuflados com terrorismo, espelhos, rumores de assassinos,trompe l’oeil, lendas.

Romãs, vários tipos de amoras, caquis, a melancolia erótica dos ciprestes, rosas de Shiraz de delicadas pétalas cor-de-rosa, jardineiras com aloé e benjoim de Meca, os caules rígidos das tulipas otomanas, tapetes abertos como jardins artificiais sobre gramados verdadeiros – um pavilhão inteiro decorado com um mosaico de caligramas – um salgueiro, um riacho repleto de agriões do brejo – uma fonte sob cristais geométricos – o escândalo metafísico que são as odaliscas banhando-se os criados negros brincando de esconde-esconde, molhados, por entre a folhagem – “água, verdura, belos rostos”.

Ao cair da noite, Hassan-i Sabbah, como um lobo civilizado de turbante, debruça-se no parapeito sobre o jardim e contempla o céu, estudando pequenos asterismos de heresia no ar fresco e sem rumo do deserto. É verdade que nesse mito alguns discípulos aspirantes podem receber o comando de arremessarem-se do alto das muralhas para a escuridão – mas também é verdade que alguns deles vão aprender a voar como feiticeiros.

O emblema de Alamut persiste em nossas mentes, uma mandala ou circulo mágico perdido na história, mas entalhado ou impresso na consciência. O Velho passa rapidamente, como um fantasma, por dentro das tendas dos reis e dos aposentos dos teólogos, atravessa todas as trancas e passa por todas as sentinelas que usam técnicas ninja/muçulmanas já esquecidas, deixando pesadelos, estiletes sobre os travesseiros, subornos poderosos.O perfume de sua propaganda embebe-se nos sonhos criminosos do anarquismo ontológico, a heráldica de nossas obsessões exibe as lustrosas bandeiras negras dos Assassinos...todos pretendentes ao trono de um Egito Imaginário, um contínuo espaço/luz oculto consumido por liberdades ainda não imaginadas.(de Hakim Bey em sua obra: Caos, Terrorismo Poético e outros crimes exemplares (disponível para download, aqui)


"Onde todos cegamente seguem alguma verdade, nada é verdade!
Onde todos são limitados por falsos moralismos e 
leis que beiram o absurdo, tudo é permitido!
Nestes casos nada é verdade, tudo é permitido..." 

Adaptado e inspirado no livro Assassin´s Creed Renascença de Oliver Bowden


sexta-feira, 14 de junho de 2013

REVOLTAS em São Paulo e pelo Brasil...

Dear friends on USA, Canada, Italy, French, England and another countries: Here in Brazil we are clashing with events from public revolt against a abusive state - and some journalists compares this facts with the recent uprisings in Turkey, Egypt and another countries. Our local media is covering the true history - and i think that soon the internet freedom will be hunted... in the last day the state agents begin shoot on civilians and journalist who recorded the facts...

Please visit and spread the following links:
http://saladuprising.tumblr.com/
http://brazilianprotests.tumblr.com/
http://whatsinbrazil.tumblr.com/

"Igualdade, Justiça e Liberdade não são apenas palavras; são perspectivas." Alan Moore, V de Vingança

Escrevendo sobre deuses como Ares e Marte, bem como seu cortejo em uma época onde tantos confrontos populares eclodem na minha cidade e em outras capitais aqui do Brasil é uma experiência interessante. Para quem não sabe (duvido!) passamos os últimos 10 dias com evidentes revoltas populares aqui em SP e que agora estão acontecendo em outras localidades do Brasil. Cidadãos e policiais estão se confrontando nas ruas. Sou contrário a qualquer tipo de demonização do papel e da profissão de policial - tenho bons amigos e amigas na corporação, pessoas éticas e de honra desempenhando suas funções. Mas as imagens dos confrontos e os relatos que ouví dos dois lados demonstram que sempre haverá pessoas no final das contas dos dois lados - nem todo manifestante é um terrorista ou vândalo e nem todo policial é um carrasco governamental.E dada a situação econômica e muitas outras no final do dia, uns sem as fardas e outros sem as bandanas - ambos vivem a mesma situação precária dos transportes, dos salários injustos, descaso dos políticos e afins.

Estranhamente temos vândalos tanto do lado do governo quanto do lado dos manifestantes, mas felizmente as quantidades deles não são tão grandes a ponto de tudo virar uma expressiva guerra cívil. Mas há sempre uma possibilidade, afinal o estado está sendo visto como o inimigo - graças a sua infame abordagem de terem agido com "energia e não violência". Vai lá que manifestantes invadirem e pararem o trânsito de uma avenida vital é uma violência - ou ato de energia, né - mas a partir de que um funcionário público declara que agiram como a cidade queria que eles agissem...e agiram com gosto pelo que mostram as fotos e videos...até quem estava na sacada ou janela de prédios próximos filmando a demonstração de "energia" tomaram tiro de borracha...
Algumas pessoas podem achar incomum, um integrante da Subcultura Vamp tanto na viés da Cosmovisão quanto na do Fashionismo (e que também integra a Subcultura Gótica) tocar em assuntos políticos; porém continuo sendo a mesma pessoa que acredito em totalidade, espiritualidade, plenitude e que atributos de dicotomia ou de varrer para debaixo do tapete não tem lugar nos Ethos supramencionados.Aliás, este artigo da Super Interessante explica direitinho o que irá acontecer com "todos" nós nos próximos meses.
Sei lá, jogar uma bomba de gás lacrimogênio no meio de uma turma gritando "violência não"; fazer presos políticos a livre critério; multar em vinte mil quem participa de um protesto e for capturado (nem bandido, motorista bêbado e traficante pagam multas como esta); confiscar garrafas plásticas de vinagre; fechar uma avenida para impedir que manifestantes não a fechassem; encurralar e bombardear civis só aumenta a revolta popular... mais combustível para as chamas que não são poucas e ardem com voracidade... e qualquer um com um parco tíno ou bom senso percebe que não é por conta de vinte centavos que está reinando este clima de revolta. Vinte centavos é só o estopim, a gota d´Água fatal.

Sem muito esforço me recordo com "energia" de uma lista de motivos, inspirações, empolgações e razões para uma boa revolta contra este governo que NÃO  me representa. Podemos começar pelo P.A.C e a reforma do Código Florestal com políticos e representantes eleitos que se recusavam a ouvirem a perspectiva dos cientistas sobre os danos ambientais que tais medidas causariam; depois podemos incluir o PEC-37 e sua proposta de transformar em terrorista todos que lutam por seus direitos e outras artimanhas de ocultarem toda a roubalheira das obras da Copa do mundo; temos ainda a impunidade; um facista teocrático a frente da comissão de direitos humanos; condenados pela justiça ocupando cargos políticos decisórios; líderes de nossa cidade e do estado se escondendo em Paris durante os confrontos...eu poderia ampliar a lista...embora a leitura desta compilação de artigos de minha autoria, e este outro do colega e pesquisador Marcos Torrigo chamado A Odisséia da Vida O desenvolvimento insustentável e a degradação planetária -  já forneçam uma apreciável visão panorâmica. Enfim, encerro postando mais alguns artigos e videos relevantes sobre tudo isso:

SOBRE AS REVOLTAS NO BRASIL:

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A Arte do Confronto: Fama, Ares, Eris, Nemesis, Harmonia e suas famílias HOJE! (Parte2) de Lord A:.

Ares
Ao longo da primeira parte apresentei algumas idéias inspiradas na leitura dos oito circuitos do Thimoty Leary na visão do Robert  Anton Wilson na obra “Ascensão de Prometeus” (recém-lançada pela Editora Madras no Brasil). Na sequência abordei algumas deidades mediterrâneas, suas famílias e suas linhagens cujo os nomes até hoje são o suficiente para descrever e delinear afetos, padrões e pulsões sempre presentes e contínuas da trajetória humana até os dias de hoje. Mudam os alfabetos e idiomas, mas continuam bem alí. Falamos sobre deidades ligadas ao confronto, apresentei cada um respeitando o sagrado de cada um e aquilo que trazem e correspondem no ecossistema e no afetivo de cada um. Até mesmo porque seria deselegante nomea-las como meros arquétipos ou ainda adentrar trocadilhos jungianos e de terapeutas mequetrefes que simplesmente reduzem conteúdos religiosos  a meros fenômenos psicológicos, e ao mesmo tempo elevam o tal do inconsciente à categoria de fenômeno religioso” – e ainda insistem que não haja uma “ordem”  (Cosmos) - para assim se excusarem por omissão e não tocarem assuntos imediatos e reais do cotidiano – como o confronto que é o tema desta série de artigos. 

Ilustração da Pg.153 do livro Ascensão de Prometeus
sobre Túneis de Realidade
Na visão platônica cada valor (inspiração ou espírito) destes encontra a todos nós através das encruzilhadas da vida em abundância e amoralidade que cultivamos tais valores em nossas escolhas diárias  e nas relações. Havendo até casos de você ver uma situação entre pessoas motivadas ou inspiradas por tal valor em uma cidade, embarcar em um avião e rever uma cena quase idêntica em outra cidade nos moldes que viu na anterior. Os modernos mapeadores da mente irão responder que era por conta de você ter focalizado sua percepção naquilo e que por isso o verá por toda parte. Isso seria um evento do seu próprio túnel de realidade. Mas talvez, não seja desta forma.E ao invés de nos alongarmos mais e perdermos o foco neste tema, enfatizo a leitura da obra de Robert Anton Wilson. Enfim, o confronto e o ato de confrontar é mais justo e saudável do que censurar “moralmente” ou pecar pela omissão em prol do status quo ou de uma situação inaceitável. Anualmente meu Círculo Strigoi celebra um rito público na cidade de Paranapiacaba chamada Amor, Honra, Caráter e Fogo Estelar, pois crê que tais valores são sinônimos e também se ligam a transparência, Destino (naquilo como escolhemos lídar e carregar em nossas vidas).

Banho de Marte e Venus, Giuliano Romano 1526
Já ví pessoas que juram que o confronto é falta de amor... Afrodite tinha como seu favorito Ares, bem como Venus à Marte.  Então lá no cerne dos fundamentos da cultura ocidental (que são sempre encobertos pelo tempero leve do judaico-cristianismo) ainda temos muito que aprender... Sempre disse que as coisas são em função daquilo que as pessoas acreditam (e se esforçam desmesuradamente para que sejam), poucas são as pessoas que arriscam a lidarem com aquilo como vem-a-ser no momento presente (e isto não implica em violência ou atitudes exageradas para corporificar mais drama nesta era tão vazia). Dizem que os pagãos eram chamados de gentios, e talvez a gentileza seja um valor necessário para lidarmos com forças tão vigorosas mencionadas neste artigo. Certamente a impotência de atribuir a agentes tercerizados suas próprias mazelas (filha de medos e culpas) contínua sendo algo patológico – como veremos no transcorrer deste artigo.

A Deusa Nemesis
Nemesis  é uma deidade mediterrânea que traz a retribuição e o ajustamento – vem a trazer cada um para sua “Justa-Medida”, a própria dimensão, ao próprio fado ou carga e ainda traz a punição aos que passam dos limites devido e incorrem na presunção contínua ou no contrariar da natureza de cada coisa – ou seja o equilíbrio dos delírios pessoais e coletivos versus a sustentação e prosseguimento do ecossistema e da estabilidade. Na Cosmovisão Vampyrica temos  a chamada “Trilha do Poente” que encontra forte afinidade com esta questão, como o caminho da imortalidade (isto nos levaria a falarmos das Hésperides, mas ficará para outro artigo) os conteúdos abordados na questão do artigo sobre “Espelho Negro”, contemplação e meditação também tem sua importância neste ponto de compreensão do presente artigo. Observe a arte e a produção cultural do mediterrâneo e perceba seu foco e importância no equilíbrio universal das coisas. Esta Deusa é uma das senhoras da necessidade (deusas que fazem o mundo girar) tendo como parente deidades como Adrastéia (a nunca enganada), Ate (Insensatez), Nike (Vitória) e as Eríneas(famosas na tragédia de Orestes).Temos em Nemesis a poderosa senhora que  re-distribue as fortunas e misérias e assegura que os presentes distribuídos abundantemente, continuamente e amoralmente pela Deusa Tique (Deusa da Fortuna) não tornem os contemplados presunçosos, arrogantes, indolentes ou tiranos. A beleza de Nemesis é comparada a de sua irmã Afrodite (também filha de Urano e das Eríneas, mas esta história fica para outra noite) pelos antigos; a principal representação de Nemesis foi esculpida em um enorme bloco de mármore trazido pelo exército do persa Xerxes que presumia vencer os gregos (como visto no filme 300 de Zack Snyder). Em Roma a Deusa Nemesis era conhecida como Ultrix e era amante de Últor (um dos últimos epítetos do Deus Marte que carregou a vingança da casa do imperador Julio Cesar contra seus detratores).

A Deusa Harmonia
Os livros modernos comparam as figuras de Ares e de Marte como análogas e equivalentes. Mas com um olhar mais próximo e alguma vivência percebemos diferenças sutís e interessantes (que ficam para outros artigos) em grossas linhas podemos dizer que o primeiro seria um soldado e o outro um general – provavelmente fruto das regiões e dos tempos que separam estes terrenos históricos. Em Roma, Marte ocupava uma posição privilegiada de culto e de importância tanto no despertar das colheitas como patrono militar e bem como do ajustamento e vingança para aqueles que ofendem os deuses e a própria linhagem, quando infringidas as leis da venerável Deusa Têmis era Marte quem ia punir e disciplinar; nas outras ocasiões é um amigo dos amigos e seu protetor. Seu cortejo em Roma era acompanhado das fúrias, de Phobos e Deimos e muitas outras deidade mas ao final de sua passagem quem vinha era sua filha com Afrodite, a Deusa Harmonia (Na Grécia) e Concórdia (Em Roma, a contra-parte de Discórdia ou Éris na Grécia) para demonstrar que a harmonia e o equilíbrio  vinha apenas após o serviço a sociedade, o confronto e o banimento dos contendores para fora da região de interesse e a sabedoria residia neste contexto – ação harmoniosa nos tempos de embate. O equilibrar e harmonizar sempre será um ato contínuo e perpétuo, sempre ativo e constante  ou traduzindo na vida como ela vem a ser: há a necessidade de aprender a servir, da disciplina, de certa marcialidade e de uma força ativa para conter e direcionar os impulsos primervos de biosobrevivência de cada ser vivo, permitindo ações de defesa, ataque e manutenção da vida pessoal e coletiva...sobre a Harmonia e a Concórdia falaremos mais na terceira parte deste artigo, até lá!

Enfim... quando penso em Ares e Marte e seus universos circundantes, acho difícil não me recordar do filme e tampouco desta música...

 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Arte do Confronto:Fama, Ares, Eris, Nemesis, Harmonia e suas famílias HOJE! (Parte1) de Lord A:.

O confronto é um atributo inegável do ecossistema e uma face do sagrado que integra o todo. As feras que admiramos no Jardim Selvagem encaram a todos os seus confrontos como um jogo lúdico de sobrevivência quase como uma dança – víde os belos beija-flores disputando a posse do bebedouro no jardim. Humanos (também feras em outro degrau de desenvolvimento) confrontam a sí e a terceiros, diferentemente das outras feras deste jardim e suas disputas são mais elaboradas – mas os atributos formativos de cada disputa ainda residem em sistemas e circuitos compatíveis de biosobrevivência, territorialidade, cultura e semântica – e principalmente o desejo de dar ordens e dirigir como algo deve se desenvolver e se propagar (alguns se importam com o todo e outros não).Tenho certeza que apreciadores do Tarô, frequentadores dos Encontros do Tarô dos Vampiros e simpatizantes da Cosmovisão Vampyrica encontrarão interessantes analogias e significados nos parágrafos a seguir.

Na mitologia mediterrânea as principais deidades e daemons ligados ao confronto integravam ou andavam próximas do cortejo de “Ares” e vinham impetuosamente ao encontro tanto do indivíduo quanto do coletivo. Os antigos diziam que alí certamente encontrávamos a titânida filha de Gaia “Fama”(Pheme) logo a frente do cortejo, ela  era recoberta de plumas e de olhos, milhares de línguas e bocas uma persistente mensageira da calúnia e da mentira. Seu palácio era de bronze com milhares de orifícios que captavam até as coisas mais inauditas e as ampliavam por todo o mundo não importando se fosse calúnia ou verdade, conforme a descreveram na Eneida. Pensa no compartilhamento
indiscriminado de informações em uma Rede Social... Junto de Fama (Pheme) andavam outras deídades (ou Valores ou quem sabe ainda Espíritos) chamados de “Engano”, “Credulidade”,”Temor” e “Boatos” que lhe auxiliavam com seus ouvidos e bocas a divulgarem indiscriminadamente tudo que víam e ouviam. Então na antiguidade ser “famoso” não era boa coisa, significando “aquele que rende o que falar”, “difamado” e “desacreditado” bastante diferente da noção de Brilho e Glória dos tempos contemporâneos.


O cortejo de Ares também era integrado por seus filhos Phobos (Medo), Demos(Pânico) e Enzo (Furor da Batalha) – assim leitoras e leitores contemporâneos podem tirar uma idéia inicial dos valores e espíritos que vinham e furiosamente para encontrar o caminho daqueles que entrariam em um confronto. Depois de todos eles –para quem permanecesse- haveria uma última filha de Ares e de Afrodite que encontraria sua trilha e estação, mas dela e do seu mito – bem como de sua numinosa importância falarei adiante.

Outra vigorosa  deidade mediterrâneas sempre ligada aos barracos e o confrontos continua sendo a Deusa Éris: Discórdia infatigável, Companheira e irmã do homícida Ares, quem a principio se apresenta timidamente, mas que logo anda pela terra enquanto a fronte toca o céu – como diziam os antigos. Diferente dos humanos descompensados ela é uma Deusa e a encarnação de muitos valores e espíritos afins – e sagrada como todas as deidades e daemons mencionados neste pobre artigo. Dentre seus feitos mais conhecidos temos o estopim da guerra de Tróia e causar problemas em festas de núpcias justamente por não ser convidada – na real, este sempre foi o fato que a levou causar a disputa do pomo dourado ou ainda o incidente com os centauros em outro casamento. Não convidar ou não reconhecer o caos ou a discórdia como sagrados é uma desmesura e mesmo uma presunção, pois também representam renovação e transformação. Aquilo que tira da zona de conforto, mas tal situação é sempre diabolizada e varrida para debaixo do tapete por comodidade, apatia e escapismo – traduzindo em outras palavras é jogado sob o outro e não em sí e as coisa piora na proporção que pessoas insistem em crerem que não vem-a-serem aquilo que pensam e demonstram – também crerem ser mais especiais e “escolhidos” e “escolhidas” do que outros para decidirem quem fica e sai do território e quem e como propagará tal território – alguns procedimentos são estruturantes e meritórios outros baseiam-se apenas em ânsia de controle e satisfação pessoal.


A Deusa Éris segundo Hesíodo era filha de Nyx (A Noite), irmã das Moiras(Fardo ou Destino), das Horas, das Keres (morte em batalha), de Oizus(Miséria), Oniros(legiões de sonhos), Momo (Escárnio), Hipnos (deus do sono), Tânatos (da morte), do Éter(Luz Celestial) e de Hemera (O Dia). Além de integra esta ampla família, Éris sozinha foi mãe das seguintes deidades: O inflexível Moros(As sortes), Kera(que destina os tipos de morte), as Hespérides(guardadoras dos pomos da imortalidade no Oeste),Limos(A Fome), Ftono(A Fome), Belona (da Carnificina), Lissa (Loucura), Caronte (o famoso Bargueiro do Rio Infernal),, Geras(Velhíce), A divina Nêmesis (Deusa da Retribuição), Apate(engano ou fraude), Filotes(Amizade).Podemos ainda citar outros filhos como Ponos (a Pena), Lete(Esquecimento), Limos (A fome) e o lacrimoso Algos (Dor), as Hisminas (Disputas), as Macas(Batalhas), Fonos (Matanças), Androctasias (Massacres), Neikea (Ódios), Pseudologos (Mentiras), Anfilogias (Ambiguídades), Disnomia (Desordem) e Ate (Ruína e Insensatez).Com tudo isso e mais um pouco, o mitógrafo Robert Graves ainda a apontava por vezes como irmã-gêmea de Ares (Filho de Hera). Éris desvela em sua amplitude as altercações, movimentos de rumores, ciúmes, invejas, acídias, avarezas, gulas e iras da condição humana; toma lados simultaneamente e deleite na confusão do movimento perpétuo e sobre isso os antigos advertiam: “Pois recorda-te que és humano e a discórdia entre tí e os outros, e mesmo consigo é da tua natureza e certeza constante em teu caminho.” A filosofia e mesmo a sabedoria perene podem suavizar tal compreensão tornando-a mais palatável – afinal como já disse sair da zona de conforto, de apatia e conformismo é um processo doloroso e diabólico; e aquilo que é o novo sempre aparece como grotesco e imprevísivel. A chamada Erística dos filósofos foi criada inspirada em Éris, é a arte da disputa argumentativa no debate filosófico e é pautada em habilidade de raciocínio e acuídade verbal. Entre os Romanos a Deusa Éris era conhecida como Discórdia (acompanhava o cortejo de Marte, como era chamado Ares por lá) e seu contraponto era uma outra deusa também integrante deste mesmo cortejo da qual falaremos ao final da parte 2 e na parte 3 deste artigo.

Quando o grande Karl Kereny (na Obra Dioniso) fala que as coisas de
Ares, Hades e Dioniso são as mesmas...

CONTINUA...

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