segunda-feira, 21 de julho de 2014

Dia Mundial do Rock e uns pensamentos...

Na terça-feira 15 de Julho participei de forma inesperada do Bate-Papo sobre o Dia Mundial do Rock no agradável Dynamite Pub. Era uma terça-feira onde ao lado da minha amada Xendra e do amigo Demoh, fomos passear um pouco lá no bairro da Bela Vista. O evento foi no formato de casa com microfone aberto e os organizadores convidando alguns dos presentes para estes deixarem suas impressões e visões sobre o tema. 

Foi um painel de ideias bem interessante e preenchido com diversas tessituras e camadas abordando o papel fundamental da retomada do rock autoral aqui no Brasil. Uma discussão antiga que já rola desde os anos noventa, pois bandas covers ou estrangeiras sempre tem prioridade na programação das casas ou capas de revistas do gênero justamente pelo apelo midiático - e o lucro fácil que podem trazer junto do público. 

Enquanto isso as bandas autorais são depreciadas ou ficam a mercê do próprio trabalho de promoção. Se as casas ou publicações dão prioridade ao conteúdo estrangeiro ou ainda aos covers, invariavelmente quem sai perdendo são os artistas autorais pois não terão acesso a aquele importante espaço na veiculação do seu trabalho e suas criações. Apontar tudo isso sem oferecer alguma sugestão ou solução me deixa na berlinda. Particularmente, considero que a culpa disso tudo seria inicialmente do público em não valorizar os próprios artistas. Por outro lado como irão conhecer e possivelmente valorizarem os tais artistas se estes não encontram espaços ou métodos eficazes para realmente exporem seus trabalhos e criações – além da vizinhança simbólica formatada por restritivos algoritmos das redes sociais? Ou ainda de politicagens de modas de subculturas ou pequenos nichos ultra-radicais e segmentadores variados, que apenas servem para manter certas panelinhas aqui e acolá puxando as cordinhas? 

A pauta principal do bate-papo girou em torno de medidas que incentivem o papel da banda e de artistas autorais - pois há demanda e interesse do público por eles tanto em publicações quanto na programação das casas noturnas nos dias de pico - sextas e sábados. Assisti a promessa solene do cara da banda Made In Brasil (mais de 4 décadas de estrada!) e do produtor André Pomba em oferecerem um projeto mensal no Dynamite em dias nobres voltado para o rock com bandas autorais – com uma pré-produção para doze edições mensais – o que é bem estimulante. Pessoas gostam de saírem de casa a noite para tomarem uma cerveja e curtirem uma banda com som próprio no sábado. Também escutei as ideias de muitos músicos (que fazem parte da história do rock e do metal brasileiro) presentes pontuando suas vivências sobre o tema. Algo bastante enriquecedor - e sabe, é bom saber que há mais pessoas da área percebendo tudo isso que já comentei neste artigo. Outro ponto interessante do evento (e louvável) é que todo o público que compareceu por lá no meio da semana foi presenteado com um DVD muito bacana com a história do rock brasileiro contada por quem a viveu. 

Em certo momento fui convidado pelo organizador do evento, o Adriano Coelho a participar do debate lá no palco – afinal segundo o próprio - alguém com mais de uma década e meia de trabalho compromissado no meio-alternativo (tanto como produtor, redator e Dj) poderia acrescentar algum tempero ao bate-papo e basicamente pontuei que: Em relação a um trabalho artístico autoral existe apenas a arte bem desenvolvida, esta não é nem mainstream e tampouco underground - é apenas arte e a conquista de espaço para trabalhos autorais, que fujam das circunstâncias fabricadas e empobrecidas - atualmente é uma conquista pessoal (em geral solitária) ou de cada agrupamento que produz arte se empenhando em conquistar o seu próprio público e espaço de exibição do seu patrimônio simbólico. Não será criando sub-cenas ou fatias de cena ultra-radicais que alguém conquistará espaço para expor as suas criações; afinal "panelismos" e "bairrismos" já deram o que tinham que dar - e acabaram colocando todos nós nestes becos-sem-saída subculturais ou com difícil acesso para exibirmos trabalhos autorais nos mais variados campos. Perante a exposição do trabalho autoral.

Outros pontos que tornam ainda pior a situação dos becos-sem-saídas das “subculturas” foram o que nomeei como o “mais-do-mesmo” questão crítica principalmente na chamada subcultura gótica, onde a maioria das festas ainda vivem de especiais na discotecagem para as mesmas bandas de sempre que há três ou mais décadas apenas se revezam na sequência dos horários dos flyers. Também é factual neste mesmo segmento a ausência de coerência entre aquilo que é anunciado como infraestrutura nos eventos e as condições reais daquilo que é encontrado durante a festa – e principalmente silenciado pelas politicagens de “deixa disso que você ganha um vip” e outras medidas persuasivas ditas “undergrounds” (pilantragem, nunca foi um valor “underground” de nenhum tipo) mas que colocam em cheque tanto o código de defesa do consumidor, afinal um evento é uma prestação de serviço e deveria ser tratado como tal por aqueles que escolhem produzir algo do gênero. Como não sou do tipo que se aventura a falar além daquilo que vivencia ou presencia, constatei que atualmente em São Paulo para eventos alternativos temos apenas casas como o Hotel Cambridge, Purgatorium, Inferno, Madame Underground Club, Dynamite Pub e o Poison Bar & Balada capazes de oferecerem uma infraestrutura completa e comprovável pelos sentidos básicos que não seja apenas papo-aranha de pseudo-promotor oportunista alternativo (que de alternativo, não tem nada – nem sequer algum amor ou respeito por valores básico pertinentes ao mesmo), que anuncia o que não tem. 

Deve inclusive ser por isso que góticos e góticas tanto dizem que só vão mesmo em baladinhas não citadas aqui apenas pelas pessoas e pelos vips que ganham para irem lá - e desta forma vemos morrer uma preocupação com a transmissão de valores estéticos, produção cultural e diversos outros valores e conteúdos interessantes e a cena perdendo muito do brilho que teve em décadas passadas. Quando o evento focaliza apenas bebida barata, bar de segunda categoria e misturar tudo e todos sem qualquer noção de organização e atrações sobrpostas e apresentadas de maneira bagunçada em bairros não muito convidativos - temos um emolduramento bem negativo e que pega bem mal... para todos os envolvidos.É como afirmar que a cena é isso... e não tem jeito. Uma correnteza a qual eu e mais alguns somos contrários há bastante tempo.

Um evento também é uma produção autoral, pois carrega nas atrações escolhidas sejam nas bandas, performances, expositores convidados, escritores e demais produções transmidiaticas o toque e a identidade dos seus criadores e frequentadores. Criar um evento não se trata de apenas copiar a estrutura alheia e chamar as mesmas atrações de sempre. Não se trata de “goró barato” e uma dezena de Djs espalhados em meia-hora de discotecagem cada um. Não é apenas sobre música, umas bebidas e uns “pegas” – há algo mais interessante e artístico acontecendo lá, não consigo separar o desenvolvimento de uma noção inata de integridade para que assim trabalho autoral (arte, música, performance, literatura e outras transmidias) bem como os consumidores e apreciadores disso tudo possam realmente se integrarem e afirmarem um posicionamento alternativo e um mercado comum e ponto de encontro deste. 

A considerar pelas expressivas quantidades de palmas recebidas ao término da exposição das minhas ideias concluí que não estou sozinho nesta busca pelo aprimoramento e oferecer uma cena alternativa mais estruturada e madura. . . . Deixo registrada aqui minha participação e idéias compartilhadas naquela noite. Minha expressa gratidão ao Adriano Coelho e também ao meu colega Dewidson, que é vocalista da banda Ravenland com quem dividi o palco neste inesperado momento representado o Gothic Rock – que também é Rock mesmo agregando teclados, sintetizadores, violinos e outras adoráveis esquisitices - afinal o Dia do Rock its just about Rock´N´Roll, baby! . . . Foto by Srta Xendra Sahjaza!

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