sexta-feira, 12 de abril de 2013

AKASHA: Desenhando a Rainha dos Condenados

"Ao desenhar e consequentemente criar esta versão da Vampira Akasha, nunca pretendi fazer um cosplay ou uma réplica do traje utilizado no filme (tal possibilidade até foi cogitada, mas não foi escolhida).Respeitei formas e texturas que o cinema e outros artistas atribuíram a personagem - áreas de reconhecimento da personagem por assim dizer -mas ao mesmo também queria deixar minha visão e impressão sobre a personagem."Lord A:. 


Tudo começou quando escolhemos que o tema daquela edição do Fangxtasy seria o filme "Rainha dos Condenados" e minha amada Srta Xendra (que desde a primeira edição do evento vem realizando lindas perfomances) suspirou como seria incrível se tivéssesmos uma "Akasha, A Rainha dos Condenados" como atração daquela noite do evento! Como bom sagitariano que sou,  achei o máximo e não hesitei em concordar...mas alguns instantes depois ponderei a fatídica questão:"Como Fazer Isso?"Demandaria tempo, espaço, pesquisa, desenvolvimento e alguma habilidade.Felizmente eu reunía alguns dos atributos necessários para tal empreitada (mas pecaria por não ter outros tantos) e ainda teria disponível  um atêlier para cristalizar tal sonho.O cenário era um acolhedor porão nas profundezas desta morada com detalhes vitorianos e ampla ferramentaria colecionada por meu pai...literalmente uma BatCaverna...Foram necessários alguns desenhos, pesquisa de materiais, telefonemas e visitas a várias lojas de materiais artísticos e falar com amigos e amigas que dominassem certas artes.E principalmente alguma coragem, para tentar algo realmente novo, desafiante e intimidador.Felizmente através dos tutoriais do site Lilithy Cosplay indicado pelos amigos Jonathan Silva e Lilian encontrei uma trilha inicial nesta estranha floresta de símbolos...




As encruzilhadas da vida sempre trazem aquilo que é novo para a gente.Certamente quando chegam tais novidades é algo inesperado e grotesco que aos poucos vamos modelando e sendo modelados e assim vai se tornando natural como todas as verdades das nossas vidas.Criar ou re-criar o figurino da vampira Akasha foi um destes momentos.Foram vários dias e noites enfurnado no atelier aqui do porão de casa recriando a personagem do romance "A Rainha dos Condenados" de Anne Rice.Foi uma tarefa desafiante pois eu nunca tinha sequer utilizado 1/3 das técnicas de modelagem e criação que foram necessárias para criar o traje...ainda vou falar deste passeio pelos intricados e emaranhados processos criativos da floresta escura de símbolos e de prateadas raízes em seu subsolo...e quando fazemos algo assim vivenciamos na carne o embate das polaridades formativas e destrutivas, ansiedade, dúvida e o caminhar seguindo uma espiralada via tortuosa que requer apenas uma fé no projeto e na capacidade de não desistirmos perante cada pequeno desafio.


E assim criarmos aquilo que podemos no tempo que nos é destinado.Um tempo legal de reflexão e de vigília das idéias e das pulsões ferais que se manifestam em estranhos padrões no cotidiano.Tive momentos augustos trabalhando ao lado de minha amada Xendra em algumas noites.Também pude passar algum tempo junto do meu pai e recordarmos bons momentos enquanto criávamos juntos algumas soluções do traje e debatíamos outros aspectos incomuns da obra...coisas de um Hades e de um Hefesto.Momentos assim que envolvem criação em conjunto tem uma solenidade e uma importância que dificilmente podemos esquecer - e que ao olharmos as peças sempre nos recordaremos.A cada madrugada eu olhava para o luar no encerramento das atividades...


Na mitologia do universo ficcional das Crônicas Vampirescas da grande escritora  Anne Rice, a personagem Akasha é a primeira de todas as vampiras; é a mãe negra.dos amaldiçoados e condenados.Conta a prosa que lá nos tempos imemoriais do antigo Egito ela era uma rainha boa e justa ao lado de seu rei Enkil, dotados de sabedoria e de magia arcaica.Só que ambos foram mortos por inimigos políticos durante um exorcismo malfadado de alguns demônios que assolavam uma casa - e então renasceram com infinita sede de sangue e imortais dotados com os poderes comparados ao dos antigos deuses.


Um regime implacável de morte assolou o mundo naqueles tempos, até que uma noite "Enkil" se cansou da matança e convenceu sua rainha a tomar assento junto a ele e permaneceram imóveis deixando sua guarda a cargo de seus filhos e filhas - os primeiros vampiros.E assim tornaram-se estátuas marmóreas, embora o que acontecesse com eles, era compartilhado por todos aqueles do sangue.Este é um resumo grosseiro e incompleto da trajetória desta personagem, mas certamente quem quiser ler com mais detalhes pode consultar as obras literárias Vampiro Lestat e Rainha dos Condenados.Ou simplesmente assistir o filme "Rainha dos Condenados" que também é bastante incompleto neste sentido mas divertido - pois aborda as últimas noites de Akasha quando ela re-vive no final do século XX, despertada pelo vampiro Lestat e sua música tocada no mundo inteiro - o que levará a um combate derradeiro e fatal, que muitos acreditavam na época que seria a conclusão épica das Crônicas Vampirescas.Se até hoje os poetas e escritores ingleses de temática fantástica ainda tentam digerir ou engolirem Paraíso Perdido de John Milton...a mitologia vampiresca de Anne Rice é a nossa equivalente para quem aprecia nosso meio-cultural.


Para apreciadoras tanto da Subcultura Vamp quanto da Subcultura Gótica a personagem Akasha simboliza poder, magnitude, paixão, amor um tom desafiante, liberdade, avidez, voracidade, deboche, "ela faz o que quer e não tá aí para ninguém" e uma força raiz do feminino primervo - que certamente encontra paralelos mitológicos em Lilith, Tiamat, Kali, Sekhmet, Cybelle dos Frígios, Inanna, Iansã e tantas outras grandes deusas.Talvez os apreciadores de Robert Graves a resumam como uma das faces da Deusa Negra expressas na arte contemporânea.Uma grande rainha e cujo os sentimentos expressos em tantos adjetivos expressa sua regência saturnina e dominadora - que reclama para sí o parceiro que deseja e que possa aventurar ao seu lado através dos mistérios insondáveis - nela temos um arquétipo que se definido e delineado, escapa através das entrelinhas e do silêncio entras as letras e formas.

"Vermelho-Sangue, pulsional e vivo e ainda assim interpenetrada e desenhada por nuances platinadas e lunares de sonhos, fantasmas em subterrâneas redes, teias, raízes e intrigadas linhas - afinal toda realeza é contida por suas funções perante o todo...assim modelamos tempestuosas nuances e inspirações...ardentes como o fogo dos infernos...e quando falamos em Tiamat, também falamos de Kingu seu general e consorte, do qual os sumérios afirmavam que a carne e o sangue da humanidade eram feito deles.Encontramos um pouco da personagem Akasha em cada uma delas e nas suas nuances e características, se a própria Anne Rice dizia em entrevistas que Lestat era tudo que ela queria ser...fico me perguntando quem Akasha representaria neste jogo de sombras da célebre autora." Lord A:.

Na moderna psicologia o termo "akasha" (ou akashico) é citado com origens orientais e remete ao inconsciente coletivo da teoria de Carl Gustav Jung - local arquetípico onde estaria guardado todo conhecimento da humanidade desde os primórdios.Na imagem não é muito diferente dos que os cabalistas e hermetistas chamam de "Yesod".Algumas linhagens Wiccanianas se referem ao elemento Éter como Akasha ou Akashico.E mesmo no ocultismo de Leví ou ainda na Teosofia veremos referências convergentes.Teremos por aqui também associações com a Kundalini (energia sexual) e suas pulsões serpentares.Alguns atribuem o akasha ou akashico como o indizível, o não-criado e o inefável onde se originam sonhos e idéias, seria a matéria da qual são compostos - Deus(es) para uns ou Deusa(s) para outros.Intricadas conexões e enlaces que fluem e preenchem a paisagem das imagens oníricas,Se eu tentasse retratar a Akasha como a imagino pelo que lí nos romances de Anne Rice ela certamente seria muito muito diferente da visão mais conhecida que acaba sendo a do filme Rainha dos Condenados.


Embora cause alguma estranheza, vejo na estética egípcia uma interessante influência ctônica (e delicadamente construída sobre a utilização de Enteógenos e Psylocibe) que me foi legada pelas pesquisas do Etnobotânico Stephen R. Berlant que um dia ainda escreverei a respeito neste blog. Falando de Akasha, o filme não foi a primeira vez que ela foi desenhada. Na década de noventa o ilustrador Daerick Gross, seu filho Daerick Gross Jr e o brasileiro Caribé desenharam a personagem com traços egípcios, acessórios dourados e pele marmórea na adaptação aos quadrinhos de Vampire Lestat e posteriormente Queen of the Damned; Os desenhos feitos pelo brasileiro Caribé foram muito elogiados pela Anne Rice naquela época. Enfim, eu adorava a coroa que Akasha usava no filme e certamente a cantora e atriz Aalyah fez um grande trabalho - que acabou se tornando referência e indelével no trato da personagem.Então precisei criar duas versões da coroa seguindo aspectos daquela utilizada no filme...precisei de quase três dias, massa epóxi, corda, papel cartão, massa F-12 e tinta prata até chegar perto daquilo que almejava...acabou ficando pronta no dia anterior ao evento a segunda versão, mas valeu a pena!!!


            Ao desenhar e consequentemente criar esta versão da Vampira Akasha, nunca pretendí criar um cosplay ou uma réplica do traje utilizado no filme.Respeitei formas e texturas que o cinema e outros artistas atribuíram a personagem - áreas de reconhecimento da personagem por assim dizer - mas ao mesmo também queria deixar minha visão e impressão sobre a persoangem.As placas laterais e a peça que recobria o abdômen também foram interessantes de serem confeccionadas ambas emprestavam uma impressão de couraça sutíl; o bustier foi a peça mais desafiadora de ser feita pois não há tecido nele, apenas massa, correntes, fios, nylon e tinta prata - e teria que funcionar do contrário minha amada performer ficaria numa situação delicada perante o público.Foi preciso testar a resitência do material, formas de prender junto ao corpo de forma confortável.E ainda assim como o restante das peças móveis representando alguma couraça, uma proteção ainda que sutíl.Nesta parte das escolhas e da trilha minha influência foram as antigas deusas que citei em outros parágrafos.A sutileza e a delicadeza desceram a personagem com sublimidade na linda gargantilha criada pela Caa del Rosal da grife "Olhar de Gato".E o video de Erick Muller Thurm, bem como as fotos de minha filha Lilith e dos amigos Guilherme Caprinus e Vitor Ryuzo - bem como os aplausos e elogios a maravilhosa performande de Xendra demonstratam que esta tarefa foi bem sucedida.Agora devo viver com a maldição de poder cristalizar, esculpír e modelar meus sonhos...isto vai ser interessante...ah se vai...

"Akasha versão FANGXTASY essa foi a performance surpresa da Srta Xendra Sahjaza. Designer e execução do figurino by Lord A e W.J.Alipio, e para complementar o look a Grife Olhar de Gata teve a honra de criar a belíssima Gargantilha que foi a 1ª da Coleção Akasha...Peça exclusiva para o evento Fangxtasy que aconteceu neste dia 28mar2013 - designer Caa Del Rosal - Gargantilha exclusiva "Queen of the Damned Edition " - Srta Xendra Sahjaza - Grife Olhar de Gata Moda & Estilo.Visite a fanpage deles no Facebook 

ASSISTAM AGORA AO VIDEO DA RAINHA AKASHA INTERPRETADA POR MINHA AMADA Srta.Xendra Sahjaza gravado e editado pelo Erik Muller Thurm:


quarta-feira, 3 de abril de 2013

Vampyros, Vampyras e Espelhos: Reflexos e Transparências


Dizem que o vampiro das histórinhas e do folclore não tem reflexo no espelho e que também não tem sombra.Muito já foi escrito sobre isso.Alguns contos muito recomendados sobre este tema integraram a obra Vampiros no Espelho da escritora paulista Giulia Moon publicado no começo do século XXI.Uma obra que merece a leitura de neófitos e veteranos da Subcultura Vamp pelo lirismo e delicadeza da autora em cada sentença...Mas neste artigo irei abordar outros temas...

Penso que aspirantes e integrantes da Cosmovisão Vampyrica possam buscar algumas palavras a respeito deste tema de Espelho, Reflexo e Transparência.Então, armado de algum lírismo e boa prosa digo que chega um tempo nas escolhas da vida, que devemos simbólicamente aprender a não mais nos refletirmos nos espelhos dos outros.Devemos aprender a pararmos de buscar a sí em terceiros, espelhos tão deslocados e desfocados...

Não precisamos fazer de conta que aquilo que temos de mais íntegro ou fragmentado esteja em outras pessoas.Não precisamos mais de agentes e no final das contas é isso.Claro, ainda assim seremos espelhos para terceiros mas quem sabe assim possamos aprender que aquilo que alguns culpósamente insistem em refletirem e jogarem sobre nós, é apenas e tãosomente deles.É como aprender a recusar presentes e tirarmos de nossas vidas pessoas que não sentimos afinidade, convergência ou concordância com seus valores e atitudes depois de termos provado, vivenciado e reconhecido seus padrões.

Lord A:. & Srta Xendra no Fangxtasy - foto de Erick Muller Thurm


No Jardim-Selvagem que vivemos, a vida muitas vezes se compara a um mercado de escolhas boas e ruíns, sortes e revérsis - causados por nossas escolhas mais íntegras ou mais fragmentadas.Deuses e Deusas, Dragões e Daemons apenas abençoam ou amaldiçoam para que as coisas venham no devido momento.Mas se pararmos para esperarmos será conformismo e este traz apatia - e logo vêm a barbárie...se tentamos passar sobre tudo também é uma desmesura.Em tons líricos (e que falam ao meu coração de forma Dracônica) uso palavras mas prefiro as imagens e as ressonâncias que evocam, falo para a alma de cada um (quem tem, tem!).

Através da antiguidade (ou daquilo que sinto como raízes da minha vida) vivêncio que valores imortais como o amor, honra, caráter e virtude são sinônimos uns das outros.E que vem ao nosso encontro e que podemos escolher cultivar e assim alçarmos alguma integridade e capacidade de nos integrarmos com afins e convergentes.É aquilo que aglutina e só permite que fique o que tem transparência.O que não tem se esvai.

A transparência nada mais é do que um jeito oriental para nomearmos o que é nomeado como vontade dos místicos ocidentais ou pulsões dos mapeadors da mente moderna.E outras palavras como destino, sína e fádo nada mais são do que a complementaridade daquilo que é sustentar em nossa velocidade, intensidade, peso, carga e expressão o nosso amor, honra, caráter e virtude com transparência perante sí...e reconhecendo que percebemos mais e mais - ou que ainda recebemos mais e mais - em nossa vida aquilo que cultivamos conscientemente ou inconscientemente...como guardar uma chama através da noite...

Aliás posso lhe assegurar que o sabor de viver com transparência perante sí é doce como o do mel vermelho-sangue.Aquele que nunca azéda em nossa vida mesmo quando nos jogamos nos redemoinhos azedos e amargos das encruzilhadas da vida que temos que passar - por escolhermos vir-a-ser e assim protagonizarmos nossa vida.Um dia a morte vêm, o destino se cumprirá e o que teremos e deixaremos é apenas o que fomos e do jeito que acabamos sendo...sem culpas e sem arrependimentos.Aprender a viver é aprender a morrer como diria DaVinci.

Foto de Vitor Ryuzo
Que amor, honra, caráter, virtude e transparência possam encontrar a cada um de vocês, como também me encontrou nesta vida.Alguns podem imaginar, mas são tais inspirações e expressões que nos encontram ou seremos nós que devemos buscar pelas tais?Enfim, Vampyros e Vampyras vamos aprendendo a desenvolver nossa transparência e deixando de buscar reflexos, recompensas e culpas em tantos espelhos de terceiros...afinal de contas cada espelho é pessoal - e para cada um -mas ainda assim um espelho.

Saboreie também...

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