segunda-feira, 21 de maio de 2012

THERION, RUNAS UTHARK E CABALAS GÓTICAS (OU UPPSÁLICAS) PARTE1


THERION, RUNAS UTHARK E CABALAS GÓTICAS (OU UPPSÁLICAS)PARTE1:
Um pouco sobre o mestre rúnico Johannes Bureus
de Lord A:.

A série de artigos "Therion, Runas Uthark e Cabalas Góticas(ou Uppsálicas) foi escrita inicialmente nas impressões, viagens e pesquisas feita ao longo dos anos curtindo as músicas da banda de metal sinfônico Therion - e mais recentemente contextualizado e desenvolvido baseada na apreciação das obras "Uthark:Nightside of Runes" e também "Qabalah, Qliphoth and Goetic Magic" ambas de Thomas Karlsson - o mentor e por vezes o próprio autor de muitas delas.Logo, estes artigos poderiam ser como uma visão mais aprofundada dos conteúdos abordados no contexto musical e do plano conceitual e filosófico da banda Therion.Para quem não conhece, Thomas é o mentor criativo de algumas das letras mais ricas de referências e simbolismos da banda.Ele é um erudito em história, religião, mitologia, runosofia e filosofia.Possui doutorado em História da Religião e mestrado em História das Idéias pela Universidade de Estocolmo, onde, em meados de 2007, realizou o primeiro curso sueco de Esoterismo Ocidental.E ainda arranja tempo para escrever livros sobre ocultismo, como aqueles que utilizei ao longo desta série.Ah sim, ele é o fundador da Ordo Dragon Rouge...Enfim, tenham uma boa viagem ao degustarem esta série...

Quando penso no conjunto da obra produzido pela banda Therion nos últimos 25 anos e seus principais mentores criativos o Christofer Johnsson (fundador e guitarrista) e Thomas Kalrsson (letrista), não consigo ficar sem me recordar de Richard Wagner e suas óperas como "Anel dos Ninbelungos" ou "Parzifal" repletas de referências ocultistas e pagãs.Como descreve o escritor brasileiro Adriano Camargo Monteiro, temos na banda Therion um amplo contexto mitológico, filosófico e ocultista e certamente posso acrescentar grandes e inesquecíveis músicas através desta trajetória.Na terça-feira 5 de junho de 2012 eles estarão no Brasil novamente para apresentarem um show especial em comemoração aos 25 anos de existência, com um repertório focado no álbum "The Secret of Runes" do começo da última década e canções inéditas nos palcos de álbuns mais recentes como "Gothic Kabbalah" e "Sitra Ahra".No transcorrer desta artigo vou enfocar conteúdos e referências das letras presentes no "Gothic Kabbalah", onde encontramos referências históricas sobre o momento em que runas nórdicas e a cabala leiga se encontraram nas terras da Suécia, mais precisamente em Uppsala pelo trabalho de Johannes Bureus entre o final do século XVI e começo do século XVII.Tal encontro se tornará um "sistema mágicko" pelas mãos e o trabalho de Bureus que ficará conhecido como Cabala Gótica ou Cabala Uppsálica - sendo até hoje estudado, debatido e alvo de interesses acadêmicos, folclóricos e ocultistas variados, pelo fato de ser um fato histórico e que influenciou até mesmo o idioma local naqueles tempos.

As músicas dos álbuns "The Secret of Runes" e "Gothic Kabbalah" versam sobre a espiritualidade nórdica e além da sofisticação e elaborada melodia sinfônica, trazem uma profunda vivência dos autores das letras junto ao tema.Aqui encontraremos Christopher Johnsson e Thomas  Kalrsson , acrescidas com a vivência prática junto a ordem ocultista Dracon Rouge.O conteúdo velado (o pano de fundo) destes álbuns podem ser encontrados no livro de Thomas Kalrsson  chamado "Uthark:Nightside of the Runes".Infelizmente o livro é de difícil acesso e aparentemente está fora de catálogo (ao menos ainda estava durante maio/2012).As runas Uthark, a Cabala Gótica (ou Uppsálica) iniciam com Johannes Bureus(1568-1652) que viajou na companhia do Rei da Suécia escrevendo e catalogando descobertas sobre as rúnas e sua espiritualidade.A principal fonte de inspiração de Bureus era a Qabalah e a alquimia, também era um ávido leitor de Agrippa, Paracelsus, Reuchlin e outros autores de ocultismo contemporâneos(nem vou entrar no mérito de como Swedenborg e posteriormente os românticos beberiam nestas mesmas fontes, para se armarem contra os exageros da era da "razão").

Bureus estudou comparativamente o saber rúnico e a Quabalah, convecencendo-se de que as runas tinham diferentes dimensões.Ele acreditava que além de servirem como letras para a escrita também eram símbolos esotéricos e mágickos.Assim batizou esta dimensão secreta de "Nobres Runas"(Adul Runes), de acordo seus estudos e práticas veio a trocar de lugar a primeira letra, passando-a para o final da antiga lineáridade rúnica escandinávas.Também  descreveu 15 "bastões rúnicos"(Stave, que alguns traduzem como estrofes) dividindo em três "Aettir"(este termo será aprofundado em futuros artigos) com cinco runas cadas.A primeira foi chamada de (em idioma suéco) Födare, princípio de "dar-a-luz"; a segunda de Fódelse, o nascimento; e a terceira de Foetus(ou Foster, em suéco), "aquilo-que-nasce".Bureus acreditava que as runas vinham de tempos antigos e foram criadas (ou trazidas para o Jardim Selvagem) por um ser mítico chamada "Byrger Tidesson"(que certamente os fãs da banda se recordam do nome pelo refrão da música Son of Stave of Time).Depois destas descobertas Johannes Bureus escreveu um livro de ABC Rúnico e procurou meios para que a população da Suécia voltassem a escrever em rúnico novamente.Tal campanha ganhou popularidade entre oficiais do exército suéco que passaram a utilizarem as runas como código secreto durante a guerra dos trinta anos.Desta forma o trabalho de Bureus entrou para a história do reino, mesmo que de forma velada e até mesmo obscura.

Uma criação importante de Bureus foi a chamada "The Falling Stone", podemos traduzir como "a pedra-que-cai" ou "pedra-cadente", cujo nome batiza a canção "The Falling Stone" do álbum "Gothic Kabbalah" do Therion.Ela conta com um interessante colóquio entre duas personagens que aparentam ser deídades, interpretada por um belo dueto feminino, especulando o que aconteceria se os lampejos de sabedoria que emanam da tal pedra despertariam nos humanos.Distante do norte-da-europa pelo território, mas não pelas imigrações e influências culturais, a sabedoria perene das bruxas do leste-europeu usava uma única palavra para se referir as meteóros, estrelas cadentes, dragões e anjos-caídos -conforme nos conta a obra Balkan Traditional Witchcraft do húngaro Radomir Ristc.E de fato na canção "The Falling Stone" temos uma referência comparativa á tal "pedra-cadente" ser a esmeralda que adornava a fronte do primeiro anjo caído.Contam que tais seres fantásticos caíam do céu nos troncos de árvores ôcas e dalí surgiam ou se ramificavam seus descendentes pelo mundo, um olhar amoroso sobre o surgimento dos ancestrais míticos de cada linhagem.Já na obra de Johannes Bureus, temos que a "The Falling Stone" foi um símbolo cujo o desenho era composto por uma pedra cúbica da qual apenas três lados são revelados e cada um retrata cinco runas dispostas em forma de cruz - estas eram as "Nobres Runas" - que inclusive pode ser conferido no encarte do álbum "Gothic Kabbalah".

Outra representação relevante de Johannes Bureus é a chamada "Adulruna" (Runa Nobre) que contêm as quinze "Nobres Runas" (Adul Runes).A importância desta representação é tanta que ela é comparada á mona hieroglífica criada por John Dee, com suas peculiares representações planetárias.Para os menos familiarizados, John Dee e Edward Kelley foram magistas britânicos que através dos anos de 1582 á 1589 registraram uma série de diálogos com deídades fantásticas(nomeadas como anjos por eles) e assim canalizaram um alfabeto e um potente idioma de poder chamado Enochiano.A tal da "mona hieroglífica" criada por Dee foi um relevante simbolo de poder, que até hoje é considerada a chave de um antigo saber astrológico e magístico - que merece um futuro ensaio. Desconheço se haja informação pormenorizada neste sentido, porque há uma curiosa afinidade e convergência entre Adulruna e a Mona Hiroglifica e da obra de Dee e de Bureus.Na realidade penso que os escritos e as obras de John Dee, Johannes Bureus e Francis Bacon merecem uma maior atenção pelos apreciadores dos temas deste texto.

A "Adulrune" de Bureus é um mapa da progressão do universo e do humano através de diferentes níveis da existência, que remete ao "Otz Chim" da Qabalah, mais conhecida como "Árvore da Vida" e que nos recordará o símbolo da Ygdrassil ou "Árvore-do-Mundo".As "Nobres Runas" atuam como a união do humano e do universo, microcosmo e macrocosmo.No centro da representação temos a runa Hagal que segundo Bureus significa "nobreza" e age como pivô da representação, ela contêm a semente ou o avivamento que contêm (ou permite traçar) todas as outras runas.No Adulruna de Bureus há uma trilha de progressão hermética, a cruz vertical descreve a progressão do adepto se elevando da escuridão da ignorância através do esplendor celeste para o princípum absoltae primum - semelhante ao Ain Soph cabalístico.O ponto mais elevado é representado como a "Runa-do-Deus", o espírito e o único.Correspondendo a runa de Thor(Thurs) a mais alta deídade na Cabala Gótica de Bureus.O plano material menos elevado e dualístico era representado horizontalmente pela runa Byrghall.O objetivo no sistema de Bureus não era abdicar ou escapar do plano mais baixo e sim unificá-lo (ou quem sabe reconhecer que não há abismos) com os planos mais elevados, realizando o sagrado matrimônio do céu e da terra, do espírito e da matéria...sua representação para isto consistia em uma runa que unificava os dois princípios..."Tell us the secret rime..."como canta o apoteótico coro final da música Sons of Stave of time.

Johanes Bureus criou ainda muitos outros símbolos para descrever os processos alquímicos da jornada através da Cabala Gótica (ou Upssálica).A obra "Uthark:Nightside of Runes" de Thomas Karlson descreve muitas outras criações pictográficas de Johannes Bureus, um grande mestre rúnico e suas íntimas observações junto a Qabalah, almejando a reintegração com a unidade.Incluíndo ainda comparações gráficas entre a "Árvore-da-Vida" e a "Árvore-do-Mundo" através das runas, algumas delas deixamos nas ilustrações deste artigo.Através destes artigos focalizamos a visão do trabalho de Johannes Bureus pelo olhar de Thomas  Kalrsson  e de suas respectivas influências pós-modernas e convergente com as idéias e práticas do célebre Carl Jung, apresentado como referência e igual influência no site oficial da própria Ordo Dracon Rouge.Talvez por isso mesmo detectamos uma certa ênfase na integração e concílio de pares opostos, sem descaracterizarem-se e para formarem um novo elemento.Tal simbolismo comparativo que certamente remete a união de Shiva e Shakti, da Serpente e da Águia para que se levante um dragão..."duas integridades que se integram"...como diriam terapêutas modernos.O nome do sistema estabelecido por Johanes Bureus é chamado históricamente de Gothic Kabbalah (Cabala Gótica), Cabala de Uppsala ou ainda Cabala Uppsálica.E muitas de suas criações integram a história da própria Suécia e estão presentes nos museus de lá e são alvo de estudos acadêmicos.Desnecessário dizer aos de coração mais "bricolado culturalmente" que o "Gótico" desta cabala se refere aos povos do norte da europa e não a moderna Subcultura, Meio-Social ou Cena Urbana Contemporânea.

Back to Rock´n´Roll:Eu comecei a curtir o som do Therion com o álbum "The Secret of Runes", como já apreciava mitologia e espiritualidade nórdica não preciso mencionar que foi "amor-a-primeira vista" - infelizmente perdí o primeiro show deles por aqui.Isso também aconteceu comigo com o Sisters of Mercy ainda na década de noventa no finado projeto São Paulo.Hoje em dia já posso contar a quantidade de shows do Sisters of the Mercy que já ví...No ano de 2004, nos meses que antecederam a segunda vinda do Therion para o Brasil (pela Top Link), fui convidado pela revista Roadie Crew para escrever uma matéria sobre a banda Therion e o ocultismo, o resultado foi tão estrondoso que acabei ganhando a oportunidade de entrevistar Christopher Jonhson (criador do Therion) por telefone (publicada em alguns sites nacionais do gênero) e depois de um longo bate-papo sobre música, mitologia comparativa, Ordo Dracon Rouge, ocultismo, magia e runas - acabei sendo convidado como Dj para fazer a abertura daquele show no Direct TVMusic Hall.Minhas lembranças daquele show foram indescritíveis, conhecí a banda, visitei os camarins e assistí minhas músicas favoritas no canto do próprio palco...o que para um fã confesso é simplesmente demais!(Hey, quando assistí o show fechado de 2009 do The Sisters of Mercy no Manifesto na festa de aniversário da mesma produtora, praticamente há um metro do Andrew Eldritch tomando baforada de cigarro malboro, foi igualmente marcante também!)Mas eu deixarei esta história para um outro dia, que eu estiver afim de assuntos a lá "joguete-de-palavras-focaultianos", "crises do pós-modernismo" ou querendo curtir o som do "Motorhead"(o próprio vocalista do Sisters há décadas confessa nas entrevistas que sua banda é equivalente a de Lemmy...vai saber!).

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