segunda-feira, 22 de abril de 2013

O LIVRO DE SÃO CIPRIANO, ALMANAQUES DE OCULTISMO E OUTROS GRIMÓRIOS (por Lord A:.)


É apenas um livro. Podemos dizer se ele é bem ou mau escrito, podemos fazer atribuições sobre o direcionamento de seu conteúdo encontrar ressonância mais com um tipo de público do que com outro; ainda assim continua sendo apenas um livro. Será que descansa uma maldição ou um “tabu” apavorante em suas páginas? Dizem há muito tempo que a sua posse é perigosa, que ele deveria ser queimado depois de lído (e até que o .PDF deveria ser deletado neste caso). Dizem que suas orações, esconjuros e ensinamentos de cartomancia provocam transformações antes inacessíveis aos seus leitores. Mas enfim, ele é apenas um livro quem decide ou escolhe o que fazer através dele – bem como a quem ele poderia escolher chegar de alguma forma – que é o responsável pelo que escolher deixar acontecer.
E este artigo rendeu uma pauta no Programa Enigmas da TV Facebook em Maio/2013

Este aqui é um dos modelos do Necronomicon usado no
filme do Sam Raimi, vulgo Evil Dead ;-)
Depois de escrever um parágrafo desses, tenho certeza que leitores e leitoras com mais de trinta anos já estavam se recordando da célebre abertura do filme “Evil Dead 2:Dead by Dawn” (aqui no Brasil ficou A Morte do Demônio ou Uma Noite Alucinante) de Sam Raimi – cujo um infame remake chegou recentemente aos cinemas (e que sem o ator Bruce Campbell perdeu metade da graça e os possuídos que parecem  figurantes saídos do filme Residente Evil contribuíram para a desgraça).Mas a idéia ou a busca de um livro ou grimório de grande poder que permita o acesso e o contato com aqueles que não-respiram ou o outro lado é algo que permanece em muitas pessoas. Há diversos motivos e razões para pessoas buscarem um artefato que lhes conceda algum poder sobre suas vidas e de terceiros.

Como o tal do “Necronomicon” do filme Evil Dead é um tanto quanto inacessível e por razões óbvias. Poderíamos  pensar então em um outro livro de poder  assim como aquele outro livro do Doutor John Dee em linguagem Enochiana (que ocultistas modernos dizem que o Necronomicon foi inspirado nele), porém ainda assim serial algo distante e de rara compreensão. Simplificando, poderíamos recorrer ao Necronomicon do ocultista Donald Tyson publicado no Brasil pela Madras (mas tal obra é apenas uma extensão imaginativa ricamente criada sobre o universo ficcional de H.P.Lovecraft).Poderíamos tentar então achar alguma inspiração nas ricas ilustrações do artista plástico suíço que desenhou um livro de artes homônimo “Necronomicon”.Só que o tal do “Necronomicon” no final das contas foi uma criação do contista de almanaques ficcionais norte-americano Howard Philips Lovecraft.Claro que o ocultista e magista britânico Kenneth Grant apresenta boas evidências e convergências entre os encontros  oníricos de Lovecraft com seus  seres inefáveis e ctônicos – que seriam as mesmas deidades encontradas pelo magista Aleister Crowley.A diferença é que o primeiro julgava seus encontros aterradores sonhos e os analisava sobre um filtro moral – já o segundo...

Existem muitos grimórios e livros que detêm grande poder em seus conteúdos informativos. Entre eles temos alguns como o Le Dracon Rouge, o Legemeton, aquele do Papa Honório e muitos outros. Em geral foram traduzidos do latim para o inglês ou mesmo o francês e foram inacessíveis as pessoas que não dominassem tais idiomas por muito tempo. Sem mencionarmos os preços elevados que sempre envolveram a importação de livros estrangeiros no passado. Graças aos arquivos .PDF a apreciação de tais obras tornou-se mais acessível aos estudantes diligentes. Alguns destes grimórios citados e muitos outros tiveram boas traduções para o português realizadas pelo casal Francisco e Giselle Marengo da E.I.E Camimhos da Tradição.

Aqui no Brasil, Portugal e países da América Latina o mais conhecido dos grimórios é o “Livro de São Cipriano” – o poder atribuído pelas pessoas ao tal livro é realmente impressionante e algo duradouro que as vezes atravessa gerações de muitas famílias. Algumas de suas edições passam das mãos de avós para netos, bisnetos e afins dentro de uma família – e de algumas comunidades religiosas variadas. Sendo algo bastante tradicional e com o toque delicado de relíquia familiar, páginas dobradas, ervas e flores secas no meio, anotações a lápis dos mais antigos e dos proprietários posteriores. E assim há uma beleza e um poder único em tais artefatos. Nos dias de hoje existem algumas milhares de versões desta obra que em geral tem um núcleo de conteúdo mais ou menos fixo e muitos outros que são anexados com graus variantes de pertencimento e afinidade de acordo cada capa ou versão. Em geral sempre acabamos vendo nestas publicações a presença da oração da cabra preta, oração do anjo Custódio, oração para enfermos na hora da morte; o Magnificat; a cruz de São Bento; pacto com o demônio; demandas para desmanchar relacionamentos e afins. Só que geralmente existem versões e versões destes e tantos outros conteúdos em cada edição. Nos tempos de hoje existem até versões politicamente corretas que suprimem partes dos feitiços para não chocarem os paladares mais delicados dos leitores e leitoras – observação aliás realizada por minha amiga Shirlei Massapust. Todas as edições lançadas no Brasil afirmam ser o verdadeiro livro de São Cipriano. Mas e aí? Qual delas que será?

A resposta é tão subjetiva e misteriosa como o perfume de flores a meia-noite no jardim. Se houvesse um livro verdadeiro – e os relatos afirmam que existiu – o próprio autor, o São Cipriano de Cartago queimou a maior parte do livro pouco antes de se converter ao cristianismo. E se algum conteúdo chegou aos dias de hoje, dizem que foi por conta de que alguém o traduziu o que sobrou do hebraico. Mesmo assim, quem conta um conto aumenta alguns pontos e com o passar do tempo e do surgimento de versões muitos relatos, situações e personagens anteriores e posteriores a época que viveu Cipriano foram reunidos a narrativa – sem um direcionamento ou propósito que possa ser percebido pelo senso-comum. Mesmo o tom das versões expressam diferenças perceptíveis, algumas edições são mais brandas e outras mais severas.

A tônica dominante permanece como a vitória do Bem sobre o Mal; de que os artifícios e os sortilégios diabólicos, não exercem poder sobre os fiéis servos de Cristo. E tais publicações do livro de São Cipriano acabam se tornando um almanaque ocultista de cultura e de sabedoria popular – o que não depõem contra a integridade de seu conteúdo e no fornecimento de informação, inspiração e resposta para aqueles que buscam por seu conteúdo. Quem procura os conteúdos do livro com intenções de praticar a crueldade sobre outras pessoas – já era cruel antes e usaria até mesmo a Bíblia ou qualquer outro livro sagrado para atingir seus intentos. Quem procura o livro para cura, inspiração e respostas também será agraciado por suas páginas. Não podemos nos esquecer que a crença brasileira na “Urucubaca” e sua evolução a “Urucubaca braba”, bem como no olho-gordo, mau-olhado e afins integra nosso folclore regional e que o Livro de São Cipriano é o almanaque popular (cristão) mais acessível para tecer imagens de como em cada época as pessoas encontraram soluções e registraram seus costumes na lída com tantos artifícios da condição humana. Ele é uma ferramenta ou arma, quem o empunha direciona e paga pelas consequências.

Como mencionei há evidentes falhas históricas nas edições do Livro de São Cipriano. Havendo personagens e situações que existiram muito tempo antes ou ainda muito tempo depois da vida e da autoria da obra. E mesmo quando temos alguém com um nome famoso, podemos ver as vidas e obras de pessoas com o mesmo nome serem assimiladas e atribuídas a pessoa mais famosa ou reconhecida – algumas vezes isso acontece acidentalmente e outras propositalmente (como para fugir de uma perseguição religiosa ou da própria inquisição). A respeito desta possibilidade a pesquisadora Shirlei Massapust  (após a publicação deste artigo) apontou que houve um Cipriano de Valera (que viveu entre 1532 e 1602) um religioso e humanista, que conviveu e foi discípulo de João Calvino ou seja esteve ligado ao protestantismo – o que era algo turbulento, pois a inquisição estava bem ativa naquele momento e não apreciava protestantes. Outra coisa que a inquisição não suportava além de críticas, eram heresias ou praticantes de magia. E quando queriam condenar alguém, não hesitavam em interpretarem as obras e os atos do acusado sob seu olhar intolerante.E Cipriano de Valera teve que encarar a perseguição inquisitorial, embora tenha conseguido escapar. Agora, fica a questão se ele era ou não um magista e se uma de suas obras chamada "Tratado para confirmar los pobres cautivos de Berbería en la católica y antigua fe y religión cristiana, y para consolar, con la palabra de Dios, en las aflicciones que padecen por el Evangelio de Jesucristo" era ou não a base ou núcleo original do Livro de São Cipriano que temos nos dias de hoje.Tal pesquisa se encontra em andamento e quando Shirlei a tiver disponibilizado, ofereceremos o link para nossos leitores e leitoras aqui!

Haverão leitores e leitoras que argumentarão negativamente sobre o fato da obra conter instruções para pactos demoníacos, orações e rezas não tão edificantes quanto se espera e ritos nefastos a sua sensibilidade. Só que existem tantas pessoas que afirmam rezar para o bem e a saúde e são as primeiras a se esquecem ou deixam de lado a medicina e a responsabilidade por cuidarem de sí. Temos os casos das pessoas que passam a ignorar e refutarem laudos médicos porque seus pastores ou líderes espirituais os proíbem, dizendo que apenas sua oração pode curar cada um deles.E quando alguém reza e acende vela para ter um emprego novo ou melhores chances em uma entrevista, o que vem a colocar os outros candidatos em desvantagem espiritual. Roteiristas de quadrinhos e de filmes costumam dizer que os melhores vilões – desconhecem que são vilões. E o livro de São Cipriano goza de uma reputação fídeligna em muitas obras de terror – bem como nos “causos” contados por nossos avós e também nas colunas policiais quando tem crimes associados a magia negra e ocultismo. Por ser algo tão próximo e tradicional do popular e do imaginário cristão a obra é reverenciada e encontra grande ressonância – temida e adorada. Eu mesmo tive a oportunidade de constatar a potência de sua mítica há alguns anos atrás:

“(...) estava indo de trem para apresentar uma palestra sobre mitologia comparativa na região do Grande ABC junto a alguns colegas conferencistas e integrantes do meu curso. O vagão estava lotado e todas as pessoas se exprimiam. Um colega brincou comigo e disse para eu fazer algum feitiço ou usar meus dons para mudar a situação.Com minha peculiar espirituosídade, coloquei a mão na mochila e peguei uma agenda de capa dura preta e falei em tom alto: Olha o livro de São Cipriano, o bruxo que virou santo...baratinho...leve o seu agora mesmo...talvez por conta de meus trajes e da inusitada performance (naqueles trens é muito comum a presença de vendedores) as pessoas entraram em pânico e mais da metade do vagão desceu na estação seguinte – quem ficou, ficou amedrontado e ressabiado...e eu e meus colegas fizemos o restante da viagem tranquilamente.(...)”

Posso dizer que meu interesse em escrever um artigo sobre o Livro de São Cipriano se iniciou formalmente naquele momento. Percebí que a menção ao livro era um tabu, algo de poder insondável no imaginário daquelas pessoas – sua ligação com o senso comunitário, cultural, potência para atender expectativas e ansiedades e oferecer uma via das pessoas participarem do grande drama cósmico – era uma evidência irrefutável. Realizar as proezas alí descritas ou mesmo ser vítima ou alvo delas, evidenciava uma ameaça real e imediata – era para cada um deles como estar junto aos guias e toda a mítica da cultura popular cristã. A ameaça da presença de tal livro era como tocar ou vislumbrar um tabu. Fosse pelos anos e a cultura de sugestionamento maligno atribuído a elas sobre o livro – que continuava apenas sendo um livro. Os mesmos surtos a respeito desta obra podem ser observados em fóruns e Yahoo Answers da internet. A palavra preconceito e o ato do livro ser tomado de forma depreciativa e alvo de críticas pesadas por integrantes de denominações evangélica mais radicais e outros agrupamentos crísticos radicais – é uma evidência relevante também. Fica difícil para mim não observar como o tal do “pensamento mágico” de Bergiers  ainda se mostra claramente presente nos dias de hoje, bem como as pessoas sempre precisam de agentes externos (demônios) ao invés de assumirem seus fados e o próprio Destino – sustentando como vem a serem...

Mas afinal quem foi São Cipriano de Cartago? Sabemos historicamente que depois de se converter ao cristianismo foi um grande doutor da moral cristã, um Bispo responsável que organizou a igreja na África, criou o latim cristão e foi um expressivo orador daqueles tempos. Morreu torturado e flagelado junto a uma moça chamada Justina, sob ordens do imperador romano Diocleciano. Mas antes de tudo isso ele foi um homem que viajou por incontáveis terras do mundo antigo e profundo conhecedor dos antigos deuses e sua magia e feitiçaria, gozava de grande reputação e até diziam que aprendeu magia negra com a legendária Bruxa de Évora. Durante suas buscas e viagens escreveu um poderoso grimório e um dia teve seus serviços contratados por um rapaz que se apaixonou por uma moça chamada Justine. Ela havia se convertido ao cristianismo e consagrado sua virgindade e pureza a Deus – o rapaz queria casar com ela, os pais haviam concordado mas ela não queria o rapaz e queria honrar seus votos. Já que Cipriano era um grande feiticeiro, ele poderia tombar a vontade dela e fazê-la se entregar ao tal rapaz através da magia. Só que cada pó mágico, feitiço, invocação, assédio demoníaco que Cipriano tentou sobre ela veio a falhar miseravelmente. Desconcertado e descrente de seus patronos, contam que ele incinerou a maior parte do seu grimório e se livrou do tal e depois ele escolheu se aliar ao deus que mostrava-se mais poderoso. Ele morreu como mártir e foi canonizado como um santo – alguém mais próximo do bom-deus cristão.O que merece respeito e a devida solenidade. Até hoje pessoas rezam por sua guia, buscam por seu patronato espiritual em cultos católicos e também nas religiões afro-caribenhas que fazem uso de algo grau de sincretismo. E sob um olhar “não-ordinário” tais afirmações tem grande valor para cada um que encontra na jornada dele pertencimento, proteção e sentido.

 Como já disse antes a lenda conta que alguém achou o que sobrou do grimório, traduziu, acrescentou e publicou. Não é difícil de se cogitar que tal história e tal livro fosse uma estratégia cristã de desmoralizar antigas religiões e seus cultos. Enfim, o livro resiste, se adapta e permanece até os dias de hoje. Recentemente soube através da amiga Cathia Gaia e de algumas pesquisas junto com colegas que trabalham na área de marketing de editoras esotéricas – que o livro de São Cipriano é uma das obras mais vendidas do gênero de todos os tempos, sempre sendo revisado, editado e re-editado. Durante todos estes anos ví muitos exemplares nacionais e estrangeiros deste livro – e aprendí a admirar e respeitar sua importância e relevância na crença e espiritualidade de tantas gerações – bem como de seu papel no imaginário e nas artes. Neste ponto ficaria difícil não mencionar a influência e as idéias surgidas com a leitura da obra “Exu Quimbanda of Night and Fire” da Scarlet Imprint e diálogos com seu autor Nicholaj deMattos Frisvold e sua esposa Katy deMattos Frisvold – uma obra que em breve apresentarei uma resenha por aqui.

Solenemente me escuso aqui por eu ter sído tão imaturo por conta da minha experiência pessoal que relatei aqui sobre o ocorrido naquele trem - mencinando o livro de São Cipriano. Não pratico os conteúdos do livro de São Cipriano apenas por uma questão de gosto e de trilha pessoal, da minha parte quando o assunto são grimórios eu prefiro escritos de Ficcino, o famoso Le Dracon Rouge e tantos outros aqui mencionados. Ainda assim espero ter oferecido um artigo que apresente o Livro de São Cipriano com dignidade e que instigue curiosidade e explorações através de um olhar mais maduro e distante do senso-comum de cada leitor ou leitor sobre seus conteúdos! Até a Próxima!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

AKASHA: Desenhando a Rainha dos Condenados

"Ao desenhar e consequentemente criar esta versão da Vampira Akasha, nunca pretendi fazer um cosplay ou uma réplica do traje utilizado no filme (tal possibilidade até foi cogitada, mas não foi escolhida).Respeitei formas e texturas que o cinema e outros artistas atribuíram a personagem - áreas de reconhecimento da personagem por assim dizer -mas ao mesmo também queria deixar minha visão e impressão sobre a personagem."Lord A:. 


Tudo começou quando escolhemos que o tema daquela edição do Fangxtasy seria o filme "Rainha dos Condenados" e minha amada Srta Xendra (que desde a primeira edição do evento vem realizando lindas perfomances) suspirou como seria incrível se tivéssesmos uma "Akasha, A Rainha dos Condenados" como atração daquela noite do evento! Como bom sagitariano que sou,  achei o máximo e não hesitei em concordar...mas alguns instantes depois ponderei a fatídica questão:"Como Fazer Isso?"Demandaria tempo, espaço, pesquisa, desenvolvimento e alguma habilidade.Felizmente eu reunía alguns dos atributos necessários para tal empreitada (mas pecaria por não ter outros tantos) e ainda teria disponível  um atêlier para cristalizar tal sonho.O cenário era um acolhedor porão nas profundezas desta morada com detalhes vitorianos e ampla ferramentaria colecionada por meu pai...literalmente uma BatCaverna...Foram necessários alguns desenhos, pesquisa de materiais, telefonemas e visitas a várias lojas de materiais artísticos e falar com amigos e amigas que dominassem certas artes.E principalmente alguma coragem, para tentar algo realmente novo, desafiante e intimidador.Felizmente através dos tutoriais do site Lilithy Cosplay indicado pelos amigos Jonathan Silva e Lilian encontrei uma trilha inicial nesta estranha floresta de símbolos...




As encruzilhadas da vida sempre trazem aquilo que é novo para a gente.Certamente quando chegam tais novidades é algo inesperado e grotesco que aos poucos vamos modelando e sendo modelados e assim vai se tornando natural como todas as verdades das nossas vidas.Criar ou re-criar o figurino da vampira Akasha foi um destes momentos.Foram vários dias e noites enfurnado no atelier aqui do porão de casa recriando a personagem do romance "A Rainha dos Condenados" de Anne Rice.Foi uma tarefa desafiante pois eu nunca tinha sequer utilizado 1/3 das técnicas de modelagem e criação que foram necessárias para criar o traje...ainda vou falar deste passeio pelos intricados e emaranhados processos criativos da floresta escura de símbolos e de prateadas raízes em seu subsolo...e quando fazemos algo assim vivenciamos na carne o embate das polaridades formativas e destrutivas, ansiedade, dúvida e o caminhar seguindo uma espiralada via tortuosa que requer apenas uma fé no projeto e na capacidade de não desistirmos perante cada pequeno desafio.


E assim criarmos aquilo que podemos no tempo que nos é destinado.Um tempo legal de reflexão e de vigília das idéias e das pulsões ferais que se manifestam em estranhos padrões no cotidiano.Tive momentos augustos trabalhando ao lado de minha amada Xendra em algumas noites.Também pude passar algum tempo junto do meu pai e recordarmos bons momentos enquanto criávamos juntos algumas soluções do traje e debatíamos outros aspectos incomuns da obra...coisas de um Hades e de um Hefesto.Momentos assim que envolvem criação em conjunto tem uma solenidade e uma importância que dificilmente podemos esquecer - e que ao olharmos as peças sempre nos recordaremos.A cada madrugada eu olhava para o luar no encerramento das atividades...


Na mitologia do universo ficcional das Crônicas Vampirescas da grande escritora  Anne Rice, a personagem Akasha é a primeira de todas as vampiras; é a mãe negra.dos amaldiçoados e condenados.Conta a prosa que lá nos tempos imemoriais do antigo Egito ela era uma rainha boa e justa ao lado de seu rei Enkil, dotados de sabedoria e de magia arcaica.Só que ambos foram mortos por inimigos políticos durante um exorcismo malfadado de alguns demônios que assolavam uma casa - e então renasceram com infinita sede de sangue e imortais dotados com os poderes comparados ao dos antigos deuses.


Um regime implacável de morte assolou o mundo naqueles tempos, até que uma noite "Enkil" se cansou da matança e convenceu sua rainha a tomar assento junto a ele e permaneceram imóveis deixando sua guarda a cargo de seus filhos e filhas - os primeiros vampiros.E assim tornaram-se estátuas marmóreas, embora o que acontecesse com eles, era compartilhado por todos aqueles do sangue.Este é um resumo grosseiro e incompleto da trajetória desta personagem, mas certamente quem quiser ler com mais detalhes pode consultar as obras literárias Vampiro Lestat e Rainha dos Condenados.Ou simplesmente assistir o filme "Rainha dos Condenados" que também é bastante incompleto neste sentido mas divertido - pois aborda as últimas noites de Akasha quando ela re-vive no final do século XX, despertada pelo vampiro Lestat e sua música tocada no mundo inteiro - o que levará a um combate derradeiro e fatal, que muitos acreditavam na época que seria a conclusão épica das Crônicas Vampirescas.Se até hoje os poetas e escritores ingleses de temática fantástica ainda tentam digerir ou engolirem Paraíso Perdido de John Milton...a mitologia vampiresca de Anne Rice é a nossa equivalente para quem aprecia nosso meio-cultural.


Para apreciadoras tanto da Subcultura Vamp quanto da Subcultura Gótica a personagem Akasha simboliza poder, magnitude, paixão, amor um tom desafiante, liberdade, avidez, voracidade, deboche, "ela faz o que quer e não tá aí para ninguém" e uma força raiz do feminino primervo - que certamente encontra paralelos mitológicos em Lilith, Tiamat, Kali, Sekhmet, Cybelle dos Frígios, Inanna, Iansã e tantas outras grandes deusas.Talvez os apreciadores de Robert Graves a resumam como uma das faces da Deusa Negra expressas na arte contemporânea.Uma grande rainha e cujo os sentimentos expressos em tantos adjetivos expressa sua regência saturnina e dominadora - que reclama para sí o parceiro que deseja e que possa aventurar ao seu lado através dos mistérios insondáveis - nela temos um arquétipo que se definido e delineado, escapa através das entrelinhas e do silêncio entras as letras e formas.

"Vermelho-Sangue, pulsional e vivo e ainda assim interpenetrada e desenhada por nuances platinadas e lunares de sonhos, fantasmas em subterrâneas redes, teias, raízes e intrigadas linhas - afinal toda realeza é contida por suas funções perante o todo...assim modelamos tempestuosas nuances e inspirações...ardentes como o fogo dos infernos...e quando falamos em Tiamat, também falamos de Kingu seu general e consorte, do qual os sumérios afirmavam que a carne e o sangue da humanidade eram feito deles.Encontramos um pouco da personagem Akasha em cada uma delas e nas suas nuances e características, se a própria Anne Rice dizia em entrevistas que Lestat era tudo que ela queria ser...fico me perguntando quem Akasha representaria neste jogo de sombras da célebre autora." Lord A:.

Na moderna psicologia o termo "akasha" (ou akashico) é citado com origens orientais e remete ao inconsciente coletivo da teoria de Carl Gustav Jung - local arquetípico onde estaria guardado todo conhecimento da humanidade desde os primórdios.Na imagem não é muito diferente dos que os cabalistas e hermetistas chamam de "Yesod".Algumas linhagens Wiccanianas se referem ao elemento Éter como Akasha ou Akashico.E mesmo no ocultismo de Leví ou ainda na Teosofia veremos referências convergentes.Teremos por aqui também associações com a Kundalini (energia sexual) e suas pulsões serpentares.Alguns atribuem o akasha ou akashico como o indizível, o não-criado e o inefável onde se originam sonhos e idéias, seria a matéria da qual são compostos - Deus(es) para uns ou Deusa(s) para outros.Intricadas conexões e enlaces que fluem e preenchem a paisagem das imagens oníricas,Se eu tentasse retratar a Akasha como a imagino pelo que lí nos romances de Anne Rice ela certamente seria muito muito diferente da visão mais conhecida que acaba sendo a do filme Rainha dos Condenados.


Embora cause alguma estranheza, vejo na estética egípcia uma interessante influência ctônica (e delicadamente construída sobre a utilização de Enteógenos e Psylocibe) que me foi legada pelas pesquisas do Etnobotânico Stephen R. Berlant que um dia ainda escreverei a respeito neste blog. Falando de Akasha, o filme não foi a primeira vez que ela foi desenhada. Na década de noventa o ilustrador Daerick Gross, seu filho Daerick Gross Jr e o brasileiro Caribé desenharam a personagem com traços egípcios, acessórios dourados e pele marmórea na adaptação aos quadrinhos de Vampire Lestat e posteriormente Queen of the Damned; Os desenhos feitos pelo brasileiro Caribé foram muito elogiados pela Anne Rice naquela época. Enfim, eu adorava a coroa que Akasha usava no filme e certamente a cantora e atriz Aalyah fez um grande trabalho - que acabou se tornando referência e indelével no trato da personagem.Então precisei criar duas versões da coroa seguindo aspectos daquela utilizada no filme...precisei de quase três dias, massa epóxi, corda, papel cartão, massa F-12 e tinta prata até chegar perto daquilo que almejava...acabou ficando pronta no dia anterior ao evento a segunda versão, mas valeu a pena!!!


            Ao desenhar e consequentemente criar esta versão da Vampira Akasha, nunca pretendí criar um cosplay ou uma réplica do traje utilizado no filme.Respeitei formas e texturas que o cinema e outros artistas atribuíram a personagem - áreas de reconhecimento da personagem por assim dizer - mas ao mesmo também queria deixar minha visão e impressão sobre a persoangem.As placas laterais e a peça que recobria o abdômen também foram interessantes de serem confeccionadas ambas emprestavam uma impressão de couraça sutíl; o bustier foi a peça mais desafiadora de ser feita pois não há tecido nele, apenas massa, correntes, fios, nylon e tinta prata - e teria que funcionar do contrário minha amada performer ficaria numa situação delicada perante o público.Foi preciso testar a resitência do material, formas de prender junto ao corpo de forma confortável.E ainda assim como o restante das peças móveis representando alguma couraça, uma proteção ainda que sutíl.Nesta parte das escolhas e da trilha minha influência foram as antigas deusas que citei em outros parágrafos.A sutileza e a delicadeza desceram a personagem com sublimidade na linda gargantilha criada pela Caa del Rosal da grife "Olhar de Gato".E o video de Erick Muller Thurm, bem como as fotos de minha filha Lilith e dos amigos Guilherme Caprinus e Vitor Ryuzo - bem como os aplausos e elogios a maravilhosa performande de Xendra demonstratam que esta tarefa foi bem sucedida.Agora devo viver com a maldição de poder cristalizar, esculpír e modelar meus sonhos...isto vai ser interessante...ah se vai...

"Akasha versão FANGXTASY essa foi a performance surpresa da Srta Xendra Sahjaza. Designer e execução do figurino by Lord A e W.J.Alipio, e para complementar o look a Grife Olhar de Gata teve a honra de criar a belíssima Gargantilha que foi a 1ª da Coleção Akasha...Peça exclusiva para o evento Fangxtasy que aconteceu neste dia 28mar2013 - designer Caa Del Rosal - Gargantilha exclusiva "Queen of the Damned Edition " - Srta Xendra Sahjaza - Grife Olhar de Gata Moda & Estilo.Visite a fanpage deles no Facebook 

ASSISTAM AGORA AO VIDEO DA RAINHA AKASHA INTERPRETADA POR MINHA AMADA Srta.Xendra Sahjaza gravado e editado pelo Erik Muller Thurm:


quarta-feira, 3 de abril de 2013

Vampyros, Vampyras e Espelhos: Reflexos e Transparências


Dizem que o vampiro das histórinhas e do folclore não tem reflexo no espelho e que também não tem sombra.Muito já foi escrito sobre isso.Alguns contos muito recomendados sobre este tema integraram a obra Vampiros no Espelho da escritora paulista Giulia Moon publicado no começo do século XXI.Uma obra que merece a leitura de neófitos e veteranos da Subcultura Vamp pelo lirismo e delicadeza da autora em cada sentença...Mas neste artigo irei abordar outros temas...

Penso que aspirantes e integrantes da Cosmovisão Vampyrica possam buscar algumas palavras a respeito deste tema de Espelho, Reflexo e Transparência.Então, armado de algum lírismo e boa prosa digo que chega um tempo nas escolhas da vida, que devemos simbólicamente aprender a não mais nos refletirmos nos espelhos dos outros.Devemos aprender a pararmos de buscar a sí em terceiros, espelhos tão deslocados e desfocados...

Não precisamos fazer de conta que aquilo que temos de mais íntegro ou fragmentado esteja em outras pessoas.Não precisamos mais de agentes e no final das contas é isso.Claro, ainda assim seremos espelhos para terceiros mas quem sabe assim possamos aprender que aquilo que alguns culpósamente insistem em refletirem e jogarem sobre nós, é apenas e tãosomente deles.É como aprender a recusar presentes e tirarmos de nossas vidas pessoas que não sentimos afinidade, convergência ou concordância com seus valores e atitudes depois de termos provado, vivenciado e reconhecido seus padrões.

Lord A:. & Srta Xendra no Fangxtasy - foto de Erick Muller Thurm


No Jardim-Selvagem que vivemos, a vida muitas vezes se compara a um mercado de escolhas boas e ruíns, sortes e revérsis - causados por nossas escolhas mais íntegras ou mais fragmentadas.Deuses e Deusas, Dragões e Daemons apenas abençoam ou amaldiçoam para que as coisas venham no devido momento.Mas se pararmos para esperarmos será conformismo e este traz apatia - e logo vêm a barbárie...se tentamos passar sobre tudo também é uma desmesura.Em tons líricos (e que falam ao meu coração de forma Dracônica) uso palavras mas prefiro as imagens e as ressonâncias que evocam, falo para a alma de cada um (quem tem, tem!).

Através da antiguidade (ou daquilo que sinto como raízes da minha vida) vivêncio que valores imortais como o amor, honra, caráter e virtude são sinônimos uns das outros.E que vem ao nosso encontro e que podemos escolher cultivar e assim alçarmos alguma integridade e capacidade de nos integrarmos com afins e convergentes.É aquilo que aglutina e só permite que fique o que tem transparência.O que não tem se esvai.

A transparência nada mais é do que um jeito oriental para nomearmos o que é nomeado como vontade dos místicos ocidentais ou pulsões dos mapeadors da mente moderna.E outras palavras como destino, sína e fádo nada mais são do que a complementaridade daquilo que é sustentar em nossa velocidade, intensidade, peso, carga e expressão o nosso amor, honra, caráter e virtude com transparência perante sí...e reconhecendo que percebemos mais e mais - ou que ainda recebemos mais e mais - em nossa vida aquilo que cultivamos conscientemente ou inconscientemente...como guardar uma chama através da noite...

Aliás posso lhe assegurar que o sabor de viver com transparência perante sí é doce como o do mel vermelho-sangue.Aquele que nunca azéda em nossa vida mesmo quando nos jogamos nos redemoinhos azedos e amargos das encruzilhadas da vida que temos que passar - por escolhermos vir-a-ser e assim protagonizarmos nossa vida.Um dia a morte vêm, o destino se cumprirá e o que teremos e deixaremos é apenas o que fomos e do jeito que acabamos sendo...sem culpas e sem arrependimentos.Aprender a viver é aprender a morrer como diria DaVinci.

Foto de Vitor Ryuzo
Que amor, honra, caráter, virtude e transparência possam encontrar a cada um de vocês, como também me encontrou nesta vida.Alguns podem imaginar, mas são tais inspirações e expressões que nos encontram ou seremos nós que devemos buscar pelas tais?Enfim, Vampyros e Vampyras vamos aprendendo a desenvolver nossa transparência e deixando de buscar reflexos, recompensas e culpas em tantos espelhos de terceiros...afinal de contas cada espelho é pessoal - e para cada um -mas ainda assim um espelho.

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