quinta-feira, 7 de junho de 2012

TERRA INCOGNITA...


TERRA INCOGNITA:Terra dos mortos, inconsciente, terra-das-brumas, escuridão, não-vazio...
Um texto de Lord A:.

Um pequeno papo sobre a morte.Não pretendo construir aqui nenhum artigo, apenas compartilhar uma reflexão que um papo digital com amigas e amigos me despertou neste feriado de Corpus Christis.Depois de ter vivenciado algumas situações de grande risco de vida e chances improváveis de sobreviver ao longo das décadas anteriores, me tornei um pouco descrente das toneladas de publicações e papos-aranhas que permeiam a questão da morte e vida pós-morte do imagináriobrasileiro.E como este espaço digital é meu, escrevo o que quero por aqui:

...não acho que se acumula "pontos de milhagens"entre as vidas.Cada vida um destino, uma vida e um destino por vez.Pelo que vejo no que sobrou dos textos de povos antigos do mediterrâneo e do mar do norte acabo ficando exatamente com esta impressão.Creio que após o fim de uma vida aquilo que vivênciamos de verdade se integre com aquilo que seja correspondente em ritmo, vibração, afinidade e tals...para trás deixamos uma têmpera emocional evanescente e acumulada de todas as tensões atravessadas durante as necessidades que confrontamos enquanto vivos;também deixamos um corpo que ao pouco se integra novamente ao todo pela decomposição ou putrefação...de repente nossas obras, nosso pisar, nosso toque e nossas idéias permaneçam pelas obras que fizemos e por como nos relacionamos - e aquele acúmulo de tensões etéreo provavelmente ganhe uma sobrevida...enfim, é tudo mistérioe especulação, expressão potente do imaginário de cada um de nós.

Certamente a ciência pauta a todas estas impressões e contatos "pós-mortem" como alucinações.Mesmo com tal infâme decreto e o evidente desprestígio social que acarrete falar ou escrever sobre isto, pessoas ainda continuam se ligando a todo este reino.Estéticamente o que chamamos no ocidente de "reino dos mortos" se relaciona ao "inconsciente" dos modernos mapas mentais.Para as artes são "as profundezas", o "Lado escuro", "terra das brumas", o "espaço síderal" e o platônico "lado de fora da caverna".Infâme dizer quetais lugares considerados "metafóricos" para os modernos, sejam muito mais íntegros e correlatos para o pensar pré-moderno e o correspondente estético para se falar de tantos valores, sonhos e impressões que cada um destes territórios simbólicos agregam e falam diretamente a pessoalídade de cada um.Para uma pessoa qualquer, prevalesce a idéia que for melhor argumentada e que o argumentador possa abordar e resolver...independe se for um fantasma ou um "déficite de atenção"...

No entanto acho que no final das contas, são mais os vivos que precisam dos mortos no ocidente do que o contrário.Apelamos aos mortos devocionalmente, subjetivamente e mesmo objetivamente todo o tempo.Veja só toda a construção social da gente é regida, pautada e conduzida por criações de gente que já morreu há muito tempo.Ficou meio abstrato?Pense nas ruas da cidade onde mora, nas estradas que anda pelo interior...quem sonhou com elas, quem abriu, quem trabalhou, quem desenhou...a maior parte já mortos...quem construiu, quem desconstruiu, quem viveu, quem registrou...mortos e mortos...Então são mortos-vivos pois ainda influenciam e guiam e nos carregam em seus ombros gigantes.

"O que o lirismo nos aponta do outro lado do rio, depois que largamos nossa péle?"Continua lá um mistério e as metáforas que podemos usar para abordar e viajarmos como quisermos e para onde quisermos.Toda jornada demanda planejamento, mensuração,execução e naturalmente percorrer sua extensão.Espera-se sempre alguma técnica e o auxílio de representações e conhecimentos descobertos ou aprendidos para colaborarem na travessia.E bem quem tudo integra é a natureza e ela responde ao nosso imaginário.Ele responde a uma boa têmpera para lidar com os imprevistos e inesperados que são a natureza eficaz e comprovada do mundo.Se vamos trilhar como cientista ou como demônio louco...tanto faz.Nossa certeza é que acaba um dia, que amaremos, que azedaremos - e que sómente mantendo nossa doçura para com nossos valores mais íntimos e relevantes é que transformamos a jornada para chegarmos ao destino - sabendo que bem vivemos até o fim...daqui em diante voltamos para o segundo parágrafo deste papo...

Há alguma saída deste ciclo?Será a trilha uma espiral? Haverá uma lança ou espada que atravessa o polo norte celestial e torne o processo um eixo axial, abrindo um caminho secreto?

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