terça-feira, 26 de julho de 2011

"Nosso Pagus: P.A.C,Pólvora & Ardíl - Quando acordaremos? "


Quarto "Post" oficial...a palavra pagão significa "que vem do campo" em termos urbanóides "que vem do mato".Só que todos os grandes impérios de hoje e outrora foram tribos no passado distante.E nossas "urbes" estão assentadas sobre os "pagus".
Certamente, não poderíamos entrar no assunto deste post sem mencionar as sábias palavras da Carta aos Povos da Terra de autoria do Cacique Mutua.
Claro que o termo "pagão" ganhou denotações e conotações bem negativas nas mãos de uma religião dominante de tendências históricamente urbanas - que demorou muito tempo para efetivamente deixar as cidades e chegar "no campo" ou "no mato" lá no continente europeu.A floresta, o relevo e os campos são abundantes e retratam a natureza ou ainda o ecosistema em seu estado bruto, no qual a beleza é atribuída pelas políticas, culturas e morais humanas - o que é algo transitório, regional e datado.Temos então na cultura européia desde o século IV D.C diversos jogos de oposições e contrastes na religião e na arte, que vilanizam ou deíficam a natureza em cada região e época.

A valorizada retidão ou ainda a linha -reta são criações humanas e não encontram espaço neste longo arco selvagem...por lá - in naturam - a "queda" talvez tenha apenas sido o momento em que os ancestrais da espécie humana deixaram de "andarem" segurando-se nos galhos das árvores e passaram a andar sustentando-se sobre as próprias pernas pelas planíces...Embora os mitos e os ritos versem sobre os ciclos da vida e a permanência de atributos atávisticos que se reproduzem na conduta humana de todos os tempos, em todas as terras e sob todas roupagens possíveis - inclusive na mais incomum de todas, a religião monoteísta.

O termo "pagão" ou ainda "neopagão" pelo menos desde os anos cinquenta do século XX tornou-se um termo guarda-chuva" frequentemente utilizado para designar reavivamentos de antigas religiões, ofícios e espiritualidades relacionadas aos ciclos e elementos da natureza focalizados ou inspiradas em versões do passado pré-cristão - ou ainda em re-leituras e re-construcionismos anteriores ou de manifestações religiosas correntes desde então.Sob a designação pagã temos em amplitude e diversidade o Asatru, a Bruxaria, o Druídismo, O Vampyrismo(em termos da vertente da Cosmovisão), O Xamanismo e muitos outros agrupamentos e sub-agrupamentos variados.Pelo menos em linhas gerais e amplexas é isso.Alguns grupos e subgrupos são mais focalizados a aspectos "In Culturam" e outros ao "In Naturam"...enfim, tais especificidades não me interessam neste "post"...E sim a questão doravante ao importa-se, amar e relacionar-se com a terra, ao ecossistema local e mais especificamente a terra brasileira...

    Frente as insanidades do chamado P.A.C, tivemos inclusive uma atitude respeitosa e louvável da igreja católica da região que merece destaque e respeito-de-cavalaria, como pontuaria Umberto Eco, na obra "Pêndulo de Focault":
"A Igreja através de Dom Erwin Kräutler, bispo de Altamira a principal cidade da região e presidente do CIMI – Conselho Indigenista Missionário, e mesmo da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, assim como, as lideranças indígenas e os movimentos ambientalistas têm feito todo esforço para convencer o presidente Lula e seu governo dos enormes prejuízos sociais e danos ambientais que essa barragem trará, alertando para as graves conseqüências não só para a população local, mas que também contribuirá fortemente para o aquecimento global e provocará alteração climática prejudicando todo o planeta." ver FONTE 

Estamos em um ponto de convergência muito importante.Nosso governo deu o pontapé inicial em algo chamado "Plano de Aceleração do Crescimento ou PAC" que se for efetivado as escuras e sem apoio ou pesquisa científica  virá a destruir sistematicamente a Amazônia, o Xingú e a médio prazo comprometer o clima, a diversidade ambiental e logo as vidas dos humanos que habitam toda este amplo território brasileiro.A obra mais popular do PAC é a construção da hidrelétrica de Belo Monte e de outras 100 barragens menores - cujo os resultados são desanimadores e a ineficácia e prejuízos sócio-ambientais são inquantificáveis...e tudo isso vêm a acontecer na terra, exato, na "mãe-natureza" ou ainda na "Grande Mãe Natureza" cujo a face se revela na biodiversidade brasileira.Não pretendo me alongar nas "causas" ou motivos que aparentemente mantêm a maior parte dos pagãos e neopagãos brasileiros em silêncio e distanciados de um engajamento mais eficaz em expressar sua contrariedade ou preocupação com o "PAC" e suas consequências.

Esta questão pode ser lída e ampliada nos seguintes posts:
Como Leões querendo fazer carinho em antílopes

Falando em termos de terra, relevo, ecossistema e solo brasileiro - certamente falo da sagrada face e corpo multi-cultural desta Deusa sem-nome, que nos rodeia e que caminhamos sobre ela - pelo menos este é um consenso verbal muito comum no paganismo e no neopaganismo em amplitude.Temos ainda a questão das alterações do código florestal propostas pelo (oportunista!) senador Aldo Rebelo e pela nefasta bancada ruralista (falaremos destes adiante neste mesmo texto) que entram em apreciação e votação no mês de agosto de 2011 lá em Brasilia, que se aprovadas como estão serão responsáveis por anistia incondicional a criminosos ambientais, impunidade de outros tantos crimes, desmatamento irrestrito dos 60% que sobraram da amazônia ilegal, poluição e contaminação de mananciais com a redução de suas margens e muitas outras e incontáveis infrações...como assim, você canta: "- terra meu corpo...água meu sangue..." e deixa isso rolar?

Conforme prometí no parágrafo anterior temos a questão da bancada ruralista e sua lída com o solo - ou com a terra local.Fato que vivemos em um país onde a vida do trabalhador rural é bem comparável com a do cidadão de algum feudo europeu de tempos históricos que apreciamos a leitura e a imaginação...Só que nos dias de hoje, aqui no Brasil, isso pode ser resumido em (..)recentes assassinatos de trabalhadores rurais, a tratorada sobre o Código Florestal, o trabalho escravo velho de guerra e outros males.(...) Emprestei este trecho em itálico do artigo: "Cansei.Agora sou Agro" do jornalista Leonardo Sakamoto, que você pode ler na íntegra bem aqui.Ainda no mesmo artigo temos apontamentos bem relevantes sobre como é a lída da terra aqui no Brasil:

O Brasil não conseguiu garantir padrões mínimos de qualidade de vida aos seus trabalhadores rurais, principalmente aqueles em atividades vinculadas ao agronegócio monocultor e exportador em área de expansão da fronteira agrícola. Ocorrências de trabalho escravo, infantil e degradante, superexploração do trabalho, remuneração insuficiente para as necessidades básicas são registradas com freqüência. Prisões, ameaças de morte e assassinatos de lideranças rurais e membros de movimentos sociais que reagem a esse quadro também são constantes e ocorrem quase semanalmente. A estrutura fundiária extremamente concentrada também funciona como uma política de reserva de mão-de-obra, garantindo sempre disponibilidade e baixo custo da força de trabalho para as grandes propriedades rurais.
Parte do agronegócio brasileiro ainda não consegue operar com práticas sustentáveis, fazendo com que o meio ambiente sofra as conseqüências do desmatamento ilegal, da contaminação por agrotóxicos, do assoreamento e poluição de cursos d’água, entre outros. Da mesma forma, para a ampliação da área cultivável ou no intento de viabilizar grandes projetos há um histórico de expulsão de comunidades tradicionais, sejam elas de ribeirinhos, caiçaras, quilombolas ou indígenas, que ficou mais intensa com a colonização agressiva da região amazônica a partir da década de 70. Esse tipo de ação tem sido sistematicamente denunciado pelos movimentos sociais brasileiros às organizações internacionais – Belo Monte que o diga.
Mesmo se fossem fechadas as fronteiras agrícolas da Amazônia e do Cerrado – hoje abertas e em franca expansão – o país ainda teria uma das maiores áreas cultiváveis do planeta. Da mesma forma, seu clima (diverso, entre o temperado e o tropical, o que garante um vasto leque de produtos), relevo (grandes extensões de planícies e planaltos), disponibilidade de água e um ciclo de chuvas relativamente regular na maior parte do ano garantem excelentes condições de produção.
 Além disso, o Brasil é um dos países mais populosos do planeta, com mais de 180 milhões de habitantes, dos quais aproximadamente 10% trabalham no campo. Há mão-de-obra disponível, o que garante o desenvolvimento e a ampliação das atividades sem depender de migração externa ou de um choque de mecanização, como acontece com a União Européia ou os Estados Unidos.(...) 

Aqui temos o quadro geral do relevo e da lída com a terra, nosso "Pagus" por assim dizer.Temos espaço hábil mas não aproveitado ou eficaz, só que para não tocar nele, preferimos mexer e destruir espaços intocados e de preservação ambiental.Algo totalmente insano nestes tempos que vivemos.E o nosso pagão, aquele que vive no "Pagus" e depende dele para extrair seu sustento e o da família, confiando nos ciclos da vida e na habilidade do manejo de sábias ferramentas e da tecnologia disponível...nem sempre em sua posse?Ele vive sob um regime de truculência e sob a mira de armas de fogo - e seus algozes vivem com impunidade...

(...)O país possui uma legislação trabalhista que, se fosse seguida corretamente, seria capaz de resolver boa parte dos problemas sociais que ocorrem nessas propriedades rurais. Ela incomoda o capital e prova disso são as fortes pressões de empregadores por uma reforma que diminua os gastos com os direitos trabalhistas. 
O que existe efetivamente é um descompasso entre o que prevê a lei e a realidade no campo. Na busca por aumentar sua faixa de lucros e seu poder de concorrência no mercado nacional e internacional, parte dos agricultores descumpre o que está previsto na legislação e explora os trabalhadores, em intensidades e formas diferentes. Ficam com parte dessa expropriação e transferem a maior fatia para: a) a indústria, b) comerciantes de commodities de outros países e c) o sistema bancário brasileiro e internacional – que financia a produção.
 Os casos de exploração mais leves são mais freqüentes e dizem respeito ao pagamento de baixos salários e à manutenção de condições que colocam em risco a saúde do trabalhador. Do outro lado, as ocorrências mais graves estão na utilização de mão-de-obra escrava.
Como os casos “mais leves” de desrespeito ao trabalhador são mais freqüentes, eles passam despercebidos na mídia, preteridos em detrimento à gravidade do trabalho escravo e infantil, que ocorrem em menor número. Também não é interesse de algumas empresas de comunicação em discutir aumentos de salários no campo, uma vez que é freqüente a propriedade de TVs, jornais e rádios por grupos familiares do agronegócio. Já os assassinatos de trabalhadores rurais são vistos como “baixas de conflito”, inseridos em um discurso de que a defesa da propriedade privada predispõe e justifica o uso da força. Segundo esse discurso, é comum o progresso ter as suas vítimas.
A força política dos proprietários rurais continua sendo um entrave para a mudança dessa estrutura. Há uma laissez-faire no campo.O detentor da terra na Amazônia, por exemplo, muitas vezes exerce o poder político local, seja através de influência econômica, seja através da força física. O limite entre as esferas pública e privada se rompe. Há no Congresso Nacional um influente grupo de parlamentares que defende os interesses das grandes empresas rurais, a chamada “bancada ruralista”. Infelizmente, esses deputados e senadores têm inviabilizado a aprovação de leis importantes que poderiam ajudar efetivar os direitos dos trabalhados do campo – como a que prevê o confisco das terras em que trabalho escravo seja encontrado. Temem que isso afete os seus principais eleitores.(...)
O artigo Cansei.Agora Sou Agro! do jornalista Leonardo Sakamoto encerra com um tom denso o retrato da vida no "pagus" brasileiro.Lá o autor constata que o desenvolvimento da agricultura brasileira nas regiões de expansão agrícola e no cerrado trouxe crescimento ecônomico mas não bem-estar social.Também é apontado que houve um aumento do nível de consciência do trabalhador rural como protagonista social - mas esta mobilização ainda é insuficiente para uma mudança na estrutura de concentração econômica no campo.Nosso governo anterior frustrou expectativas por não tomar decisões que alterassem efetivamente a situação no campo e pelo contrário reforçou a disciplina do à ferro-e-fogo.O jornalista ainda aponta de forma relevante que o governo deveria ter sido pelo menos capaz de concecer: 

(...)o mesmo apoio garantido ao latifúndio para a pequena propriedade, considerando que a sua produtividade é comparável ou maior, ao passo que a degradação do meio ambiente e da força de trabalho são maiores na grande propriedade. Ressalte-se que apesar das grandes fazendas ficarem com a maior fatia do bolo do financiamento público, as pequenas propriedades é que empregam 80% da mão-de-obra no campo, produzem a maior parte dos alimentos consumidos pela população brasileira.Ou seja, seria necessário um enfrentamento político e econômico contra as condições que garantem a exploração do trabalhador e do meio ambiente. Fato que, até a vista alcança, permanece distante.(...)

Como disse o economista Padvan Sukhdev, responsável pelo projeto "A economia dos ecossistemas e da biodiversidade" (que é um painél internacional responsável por calcular o custo dos danos ao ambiente causados pelo homem) em recente entrevista a Revista Veja:

(...)Há quem pense que a defesa ambiental é um luxo para os ricos.A realidade é o oposto. A proteção da biodiversidade é uma necessidade para os pobres, principalmente os da zona rural. Eles sobrevivem dos benefícios diretos das florestas, dos recursos hídricos e do solo. Essa dependência se explica porque os pobres não têm muitos bens acumulados. Como têm pouca riqueza privada, precisam da riqueza pública, na forma de serviços ecológicos, para sobreviver. Se continuarmos no atual ritmo de destruição ambiental, em 2050 o prejuízo será equivalente a 7% do PIB mundial. Pode parecer pouco em relação à riqueza global, mas é muito se comparado aos benefícios e ao sustento que a natureza proporciona às famílias dos agricultores pobres. Por isso, acredito que a maneira certa de calcular o custo da destruição do ambiente é compará-lo não ao PIB, mas à renda da população pobre. Por esse critério, os prejuízos causados pelo mau uso dos recursos naturais representam entre 50% e 80% da renda dos pobres. Enquanto não mudarmos a maneira de fazer negócios, vamos continuar perdendo as vantagens dos serviços ambientais e, por consequência, prejudicando a sobrevivência da maior parcela da humanidade.(...) Falamos sobre ele e suas idéias no artigo: O Jogo Muda o Jogador.
A mentalidade do latifundiário brasileiro aparentemente ainda é focalizada em termos de desenvolvimento x ambiente, só que eles ainda não sacaram que é o "ambiente" com suas perdas dada a destruição desenfreada que irão afetar e possivelmente destruírem seu desenvolvimento e os próprios negócios.Uma postura aliás bem pouco sadia.Sem falar que os danos afetarão o coletivo e todos nós que estamos distantes um verdadeiro efeito borboleta ou reação em cadeia - de proporções catastróficas.

Neste momento vivemos na mesma terra Brasileira onde o presidente da agência governamental responsável pela preservação da nossa biodiversidade sócio-ambiental alega em rede de tv estrangeira que vão fazer com os índios(nossos pagãos par excelence), aquilo que os australianos fizeram com os aborígenes de lá.Ou seja um massacre.Seus funcionários preferem sacrificar animais confiscados de contrabandistas do que pelo menos liberta-los em suas regiões naturais de onde foram roubados.As alterações do código florestal, o PAC, se forem aprovadas irão permitir por lei e autorizarem todos estes massacres a biodiversidade descritos nestas linhas sangrentas.Nos "pagus" a doutrina da pólvora, meio feudalista e meio coronelista permanecerá ardente e latejante...



       Tudo isso sendo feito sobre o corpo de Gaia, como muitos integrantes do paganismo pontuariam sem hesitar - e onde ficam estas pessoas que reverenciam seu sagrado nos ritmos da vida, das estações e de um sagrado mais orgânico e menos formalizado pontuado no ecossistema?O que será que estão esperando?Que amor e que reverência é essa a terra, sem qualquer engajamento sequer verbal?Será que é porque os efeitos de todo este cataclisma ainda não tocaram a classe média?Vale mais a pena um "conceito-vazio" do que uma realidade?Estará numa Europa idealizada nosso ecossistema? Será que embaraçamos religião e espiritualidade com a estagnação de uma ideologia...e achamos que tudo pertence a um "futuro" hipotético?Será que odiamos nosso "presente" o suficiente para o refutarmos?

Enfim, os questionamentos levantados e suas dúvidas são válidos e indicam um sintoma de inteligência perene.Não importa sua trilha através dos meandros do paganismo contemporâneo e mesmo de outras religiões.Toda a beleza, amplitude e diversidade do ecossistema que você contempla e aprecia - nosso "Pagus" e seus habitantes atuais correm sérios riscos a curto prazo - no âmbito poético comparável aos sábios proscritos e perseguidos de todos os continentes no passado.Trazendo a questão para níveis ambientais, a biodiversidade e sua preservação está em jogo e o resultado dos nossos movimentos permissivos ou contrários as mudanças destrutivas do governo despontarão sua colheita em breve...

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* Nota do Autor:  Alguns meses depois de escrever este texto, desenvolví um a postagem mais pessoal e intimista sobre minhas impressões  e vivências do Paganismo Contemporânero, intitulado  "Vamps vêem o Paganismo" ,

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